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O FRACASSO DA MOÇÃO DE CENSURA DO CDS

O FRACASSO DA MOÇÃO DE CENSURA DO CDS

A moção de censura do CDS, ontem debatida e votada, não passou de um tiro de pólvora seca. A maioria parlamentar chumbou a iniciativa de Cristas, que estava de antemão condenada ao fracasso - o que a torna de difícil compreensão - e respondeu a Marcelo, que pedira ao Bloco e ao PCP para clarificarem o apoio ao Governo do PS.

Opinião de:

PORTUGAL DOIS ANOS DEPOIS

A moção do CDS é ainda mais difícil de entender, se considerarmos que é a primeira vez que um Governo é censurado por causa de uma tragédia! Mas teve um fim triste e inglório, diria merecido, para aquele partido, não para o PS, claro. Funcionou como uma moção de confiança ao Governo, o que nos faz duvidar, seriamente, da visão política de Cristas e da capacidade de se assumir como alternativa. Disse já, tempos atrás, que Cristas não vai andar na crista da onda. O mais provável é afogar-se politicamente. Os resultados em Lisboa foram um flop, fruto de circunstâncias que não se repetem.

Foi, também, a primeira vez, no Portugal de abril, que um Presidente da República reclamou, publicamente, a demissão de um ministro e a remodelação do Governo. Marcelo exorbitou, claramente, dos seus poderes constitucionais. A imprensa amiga dele diz, em tom cordato, que redesenhou o nosso sistema político-constitucional, mas parece-me mais apropriado e claro afirmar que, subvertendo o semipresidencialismo, se caminha para o presidencialismo. A esquerda deve estar unida e coesa, para impedir esta caminhada preocupante e perigosa, combatendo a tentação presidencialista de Marcelo, que ameaça a democracia. E o presidencialismo, é bom ter presente, descamba, por vezes, em ditadura.

A afirmação do Presidente de que, devido à tragédia dos incêndios, se sente como tendo levado uma sova monumental é corriqueira e revela demagogia e populismo. Marcelo parece querer assumir-se como homem providencial, como salvador da Pátria, mas olhe que a Pátria está boa e recomenda-se! Os incêndios não vão afetar eleitoralmente o PS. Pedrógão Grande foi antes das autárquicas, e a vitória socialista seria esmagadora. Não há nenhum país do mundo que esteja a salvo de tragédias. Quem, como o PSD e CDS, faz o aproveitamento político é que é penalizado. O povo português, ao contrário da oposição e de comentadores de extrema-direita, não julga o Governo por eventuais catástrofes naturais. O nosso povo aprecia quem governa, em função do progresso ou retrocesso que se verifica no país, da preservação ou não dos valores democráticos, e do nível de vida e bem-estar que desfruta. 

É, hoje, uma realidade incontroversa e indesmentível que os portugueses vivem melhor. A política de reposição de rendimentos, ex-libris do acordo de esquerda, tem sido bem-sucedida. Com a incerteza que grassa no PSD, e a fragilidade do CDS, a aposta no PS e na maioria de esquerda continua a surgir, aos olhos dos portugueses, como a mais fiável e credível. Numa sondagem da Aximage, efetuada já depois dos últimos incêndios, aumentava a confiança em António Costa para o desempenho do cargo de primeiro-ministro. Ninguém o vai trocar por Rui Rio e, muito menos, por Santana Lopes!