O direito ao bom nome
Há em todo o burburinho um desconhecimento da prática internacional e uma falta de competência das boas práticas de gestão que são seguidas pelas grandes organizações e empresas.
Não há um só governo da Europa, da América do Norte, da Oceânia e da Ásia desenvolvida que não utilize os negociadores de “alto perfil” para os grandes dossiers. Nos Estados Unidos, no Canadá, no Japão ou na Coreia do Sul, muitos desses negociadores integram um espaço de confidencialidade, remunerados por recursos públicos nunca objeto de contraparte documental. Em todas essas circunstâncias, a escolha é feita pelo prestígio, passado e inatacável honradez.
Também nas grandes empresas se promove a escolha de peritos de valor reforçado a quem cumpre a função de aconselhamento e auditoria, de elemento externo por quem passa a verificação dos objetivos estratégicos e de política definidos pelas administrações. Se a maior parte dos comentadores se recheasse do mínimo de informação sobre management não ficaria tão analfabeticamente instabilizada.
Um dos argumentos que é usado, sem tino, advém do princípio da transparência que deve ser aplicado a todos os negócios públicos. Poderíamos discutir se esse princípio se aplica a inteiras áreas, mas não é esse, por agora, o ponto. Mas, no mundo em que vivemos, onde os parlamentos assumem o papel de verificadores da conformidade, por vezes de forma desconexa e sem sustentação, a responsabilidade pelas decisões, pelo proceder e pelos atos dos peritos especiais é sempre do primeiro-ministro. E até agora ninguém conseguiu encontrar um só facto que pusesse em causa o primeiro-ministro ou Lacerda Machado que não fosse a velha desconfiança lusa em que não basta ser integralmente sério é preciso um atestado do Cardeal Patriarca.
Há quatro anos arás, aquando da escolha de António Borges para perito qualificado do anterior governo, não entrámos no coro de protestos que no PS se levantou. A nossa opinião foi entendida com desconfiança até. Não simpatizando com Borges, quer pessoal quer politicamente, não deixávamos de reconhecer um perfil adequado para ajudar, com o seu liberalismo excessivo, o governo do liberalismo pacóvio. Agora, com mais razão, porque o tempo a concede, assumimos o direito de defender Costa e Lacerda Machado nesta horrível forma de fazer política, opinião e notícias.
Neste mundo não somos só nós os honestos e transparentes. Os outros, que se propõem trabalhar para um projeto político e para o seu país com total respeito pela legalidade e pela decência, também merecem a outorga do mesmo princípio, desse mesmo direito.