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O DESBOCADO

O DESBOCADO

Jeroen Djisselbloem, o ainda presidente do Eurogrupo, continua a dar nas vistas pelas piores razões. Desta vez, excedeu-se, ao dizer que os países do sul da Europa (Portugal incluído) não podem gastar o dinheiro em “copos e mulheres” e depois pedir ajuda. Declarações imediatamente repudiadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo primeiro-ministro. António Costa concluiu que, com estas afirmações xenófobas e sexistas, Djisselbloem deixou de ter condições para se manter no cargo.

Opinião de:

O DESBOCADO

As afirmações de Djisselbloem não ofendem apenas as mulheres, são um ultraje para os cidadãos europeus, porque põem em causa os valores fundadores da União Europeia e representam um retrocesso civilizacional. Quem tem uma conceção machista da sociedade e considera que o poder só pode ser exercido no masculino, não pode representar a EU. Quem reduz a mulher a objeto transacionável para satisfação do homem e lhe nega a condição de sujeito, é óbvio que não respeita os Tratados europeus.

As críticas e pedidos de afastamento do presidente do Eurogrupo vieram de todos os quadrantes, inclusive da sua família política europeia. Por enquanto, Djisselbloem diz que não se demite e recusa-se a pedir desculpa. Ou seja, não tem sequer a noção da gravidade do que disse.  Prova de que não tem bom senso nem bom gosto. Quanto a isso, há quem tenha e há quem não tenha. Os que não têm bom senso e desempenham altas funções, como é o caso dele, deviam ao menos ter a inteligência de perceber que há momentos em que o silêncio é de ouro. É o caso. O senhor, tudo leva a crer, está de saída. O partido dele teve um mau resultado nas recentes eleições na Holanda. É dele, certamente, uma boa parte da responsabilidade pelo desaire eleitoral. Se for tão desbocado e impopular internamente como é no exterior, a responsabilidade não será pequena.  Se fosse um político com sentido de oportunidade, já se percebeu que não sabe o que sentido de Estado quer dizer, guardava reserva verbal e procurava sair do cargo, com discrição e dignidade, pela porta da frente. Pelos vistos é como o escorpião, é da sua natureza dizer disparates mesmo que eles façam ricochete e o atinjam mortalmente. Não por acaso, só uma voz se ergueu em sua defesa do ministro holandês. Quem? O ainda poderoso Wolfgang Schauble, quem mais poderia ser? 

Não é, aliás, a primeira vez que o presidente do Eurogrupo se envolve em polémica.  Por falar quando devia estar calado. Não vale a pena chorar por tão mau defunto. Cedo, aliás, revelou não ter perfil político (não questiono a sua competência técnica) para o desempenho de cargo europeu. Foi um erro de casting. Que sirva de exemplo para escolhas futuras, designadamente, em relação a quem o vier substituir. O que a Europa precisa é de lideranças fortes e respeitadas. Estamos fartos de aturar os despautérios de gente inepta e de casos deploráveis.