O desamor
Se médicos, enfermeiros, dentistas, biólogos, nutricionistas e psicólogos, além dos representantes sindicais da função pública, coincidem no protesto contra a política de saúde do Governo é por algo de errado estar a suceder, para o qual não têm resposta nem antídoto. Quando centenas e até milhares de profissionais treinados nas escolas, politécnicos e universidades, com enorme esforço financeiro do Estado e das famílias, se vêm forçados a votar com os pés isto é, a fugir de um País cujo governo os maltrata, muita coisa vai mal. No ano passado, segundo as respectivas Ordens, 400 médicos e 600 médicos dentistas deixaram o País. Provavelmente emigraram ainda mais enfermeiros e muitos técnicos de diagnóstico e terapêutica, cuja especialização tão útil se torna para populações que envelheceram de repente, como a nossa.
Não se cortam as esperanças de jovens diplomados e desejosos de trabalhar no seu País, anulando postos de trabalho e reduzindo salários. Quando o sistema se desorganiza, escorregando para perdas de funcionalidade e para más combinações de recursos humanos, e quando quem manda não reage à crescente conflitualidade entre doentes, familiares e profissionais, (casa onde não há pão, todos ralham sem razão), estamos à espera de quê? Do regresso aos anos sessenta do século passado? Do agravar do descrédito nacional? Da falta de profissionais ao trabalho em condições de forte tensão e agravada impotência? De uma agressão mortal em serviço de saúde? Senhores do Governo: não brinquem com o fogo! E ao menos evitem falar. Não se responde ao erro, desleixo e violência com o mero cinismo verbal.