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O alívio de Belém não é uma boa notícia

O alívio de Belém não é uma boa notícia

O senhor presidente da República decidiu empenhar a réstia de credibilidade política que ainda lhe resta e usar a dignidade do cargo que ainda ocupa para participar na campanha eleitoral para as legislativas, que o próprio prolongou desnecessariamente, em defesa do seu partido.

Opinião de:

O alívio de Belém não é uma boa notícia

Em discursos oficiais ou em declarações avulsas não perde uma oportunidade para repetir a narrativa do PSD-PP sobre a austeridade destes anos e a “viragem” da economia às portas das eleições. Ao mesmo tempo vai hostilizando o PS e toda a oposição. Esta atitude imparcial, imprópria do cargo que ocupa, não é nova em Cavaco Silva, remonta ao início do segundo mandato, pelo menos. Mas agora é assumida despudoradamente. O caso mais recente foi o da apressada privatização da TAP antes das eleições, uma decisão que divide o país. Mal o questionaram sobre o assunto respondeu: “estou mais aliviado”. O senhor presidente da República estar “aliviado” não é, provavelmente, uma boa notícia para os portugueses, mas mais um desastre que lhes vai cair em cima. É o que resulta de todo o seu comportamento passado.  

Não é preciso grande esforço para nos lembramos do seu discurso de tomada de posse, em Março de 2011: “Precisamos de um combate firme às desigualdades e à pobreza. Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos.” Hoje, passados quatro anos, em que a maioria dos portugueses foi sujeita a pesados sacrifícios e a um aumento das desigualdades e da pobreza nunca vistos nos últimos 40 anos, com a sua cumplicidade activa, fica a nu que Cavaco Silva é capaz de dizer tudo e o seu contrário para defender a sua dama. Ainda no mesmo discurso teve a ousadia de dizer: “Foi especialmente a pensar nos jovens que decidi recandidatar-me à Presidência da República.” Contudo, em defesa do seu governo, passou estes últimos quatro anos a ver o desemprego entre os jovens ultrapassar os 30%, a aplaudir a degradação da Educação e da Investigação e a emigração em massa de jovens, sem uma crítica ou um rebate de consciência.

No verão do ano passado, Cavaco Silva, afivelando o seu ar mais pretensioso, disse: “os portugueses podem confiar no Banco Espírito Santo dado que as folgas de capital são mais que suficientes para cumprir a exposição que o banco tem à parte não financeira, mesmo na situação mais adversa”. Dias depois de tão convictas palavras, em que muitos pequenos investidores ainda confiaram, o Banco Espírito Santo colapsou. 

O senhor presidente da República, tomando partido nesta campanha eleitoral, perdeu a última oportunidade de sair do cargo comum mínimo de credibilidade.