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Novo Museu dos Coches

Novo Museu dos Coches

Opinião de:

Novo Museu dos Coches

Chegou finalmente o dia da inauguração do novo Museu dos Coches. Uma grande obra de arquitetura, de um dos grandes arquitetos da lusofonia – Paulo Mendes da Rocha, Prémio Pritzker, para acolher a melhor Coleção de Coches do mundo. Pena é que um momento de tão grande significado, quer para o acervo patrimonial nacional, quer para a intervenção urbanística de uma das zonas de maior atração turística do país, ocorra entre tantas contradições, motivadas por escassez de memória política e por falta de sentido de Estado.

Como é sabido, este museu tem sido considerado publicamente pelo secretário de estado da cultura, como “um erro”. Não é prioritário, foi um erro”, disse ele no Parlamento. Logo os deputados da maioria, na Comissão de Educação e Cultura, profundamente conhecedores da matéria, o apelidaram de “mamute, elefante branco socrático”! Mal sabiam eles, que quem concebeu a ideia do novo Museu dos Coches, naquele sítio, no início dos anos 90, foi precisamente o atual Presidente da República, Cavaco Silva, com Pedro Santana Lopes na Secretaria de Estado da Cultura. Anunciaram oficialmente que haveria ali um novo museu, voltaram a anunciar nos governos de Durão Barroso/Santana Lopes, mas foi nos governos de Sócrates que finalmente se concretizou o projeto. O ex- ministro Manuel Pinho conseguiu o financiamento na negociação das contrapartidas do Casino de Lisboa e encomendou o projeto. Sem desvios de custos nem atrasos, a obra fez-se.

E o que fez este governo?

Por ser uma obra associada ao governo socialista, desvalorizou-a e adiou os projetos finais, até ao limite da irresponsabilidade. Vai inaugurá-la agora, com festa e pompa, mas sem o projeto museológico e sem a passagem superior sobre a Avenida da India, que são parte integrante do conceito global (porque ainda decorrem os concursos para as obras)

Por outras palavras, o Museu vai inaugurar exatamente como a obra estava em 2012, quando o edifício ficou pronto. No entretanto, por razões ideológicas e eleitoralistas, perderam-se 3 anos de dinamização económica daquela área, de divulgação cultural e de exploração turística de um equipamento de 35 Milhões de euros. Como se estivéssemos em condições de desperdiçar recursos…

Também foi veiculada a ideia de que o novo Museu iria aumentar significativamente a despesa pública em comparação com o atual museu no Picadeiro Real. Afinal, esta semana o SEC desdisse-se: os encargos com o novo museu serão praticamente os mesmos que os do atual Real Picadeiro em 2014 graças às receitas das diversas valências que lhe estão associadas. Tal como o PS sempre tinha afirmado, de resto.

Finalmente, falta referir que a Fundação Casa de Bragança, presidida por Marcelo Rebelo de Sousa, tem sido a guardiã de 80 veículos do Estado, em Vila Viçosa, por falta de espaço no antigo museu em Belém. A narrativa museológica do novo Museu dos Coches previa que regressassem 40 carros da coleção do Estado. Apenas regressaram 26. Como se aceita esta subordinação do Governo a uma Fundação privada?

Por tudo isto se conclui que o envolvimento deste Governo com esta obra, o Novo Museu dos Coches, demonstra uma profunda falta de sentido de Estado.

Uma obra desta grandeza não é uma obra política – é uma obra de Estado. Por isso é tão importante a proposta do PS no programa eleitoral que prevê um Plano de Obras Públicas, aprovado por 2/3 do Parlamento. Desta forma todos se comprometem, todos respeitam a história e todos passam a colocar o interesse público em 1º lugar.