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Nós e os esquecimentos e outras tropelias da direita

Nós e os esquecimentos e outras tropelias da direita

Passos Coelho é um primeiro ministro que não merece um segundo mandato ‘para acabar a obra’. Para se acabar a obra é necessário tê-la feito e ter uma ideia do que virá a seguir. Ora o que Passos fez foi uma espécie de subempreitada imposta e encomendada pela troika e, quando terminou o chamado ‘memorando de entendimento’, ficou sem programa e sem ideias. Não sabe o que fazer com o poder nem com o Governo que se comporta cada vez mais como uma federação de ministros que, sem ideias se vai entretendo com querelas laterais...

Opinião de:

Nós e os esquecimentos e outras tropelias da direita

Para ele e para a coligação a que preside ‘não há alternativa’ senão  prosseguir com as políticas ditas de austeridade, mas que verdadeiramente são de empobrecimento generalizado, e das reformas estruturais, forma elegante de dizer que é necessário reduzir os salários e mandar para a rua mais uns milhares de trabalhadores da função pública.

Acresce que a trapalhada dos esquecimentos e das explicações contraditórias sobre a sua ‘carreira contributiva’ em relação às contribuições para a segurança social e as questões do IRS (pago ou não pago), o fez perder a auréola de cidadão cumpridor que apregoava como fiança da sua idoneidade para impor a todos os portugueses o pesado fardo fiscal que tiveram de suportar durante estes últimos três anos de política de austeridade donde, afinal, não resultou o crescimento prometido. 

Pelo contrário, exceptuando a acesso aos mercados, que há dias o FMI com todas as letras explicou não se dever à boa governação do Governo, mas à conjuntura internacional e, sobretudo, à actuação do BCE, significou o retrocesso de mais de uma década da sociedade portuguesa: mais pessoas pobres ou no limiar da pobreza, mais desemprego, sobretudo dos jovens e das mulheres, mais desigualdade; redução de salários; restrições ao apoio dos mais carenciados (rendimento social de inserção ou rendimento mínimo garantido). As privatizações que nos justificaram como necessárias para abater na dívida (da qual representaram pouco mais de 5%!) e aumentar a eficiência de gestão, no pressuposto de que os gestores privados seriam melhores que os mesmos gestores quando deixavam de ser públicos… Afinal essas privatizações constituíram a venda forçada de activos estratégicos que passaram irremediavelmente para mãos estrangeiras. 

A verdade é que a coligação, sobretudo o PSD, e o Governo não têm projecto para governar durante estes meses que faltam até às legislativas. O Programa da troika acabou um ano antes do que necessitavam. Por isso, tudo se afunda em medidas dispersas, em omissões, em discursos vazios, com que diariamente faz prova de vida. O Governo vegeta resignado na sua próprio incapacidade. O mais espantoso é que os seus porta-vozes, oficiais e oficiosos, jornalistas e opinion makers de serviço, criticam o PS por não ter programa. António Costa há meses que marcou o seu calendário que, aliás, tem cumprido escrupulosamente. Tem havido falhas? Naturalmente. 

Porque a realidade do vazio político criado pelo Governo, que se limita a esperar pelas eleições, na expectativa de que o tempo o venha a redimir, criou uma situação nova e, nestas circunstâncias, talvez seja de acelerar os trabalhos em curso podendo antecipar, criteriosamente, algumas datas.

Em qualquer caso, fica para nós uma enorme interrogação: porque é que esses ‘analistas’ não exigem ao PSD que explicite as suas propostas? Porque é que, de forma descaradamente cúmplice, actuam, falam e escrevem como se o problema não existisse? 

António Costa tem-se limitado a divulgar apenas algumas medidas que já estão solidamente ancoradas no quadro geral da Agenda para a Década. O seu lançamento funciona como um teste feito junto dos eleitores que vão ter de decidir que caminho escolhem. Ainda lhe falta uma estratégia global de médio prazo de que o País precisa urgentemente. Mas temos de respeitar o tempo necessário para estabelecer essa estratégia e podê-la então divulgar. Global e de mudança. Que devolva a confiança aos portugueses.