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Nos 200 anos de Karl Marx

Nos 200 anos de Karl Marx

Não será o facto de nunca me ter considerado marxista que impede de reconhecer a enorme influência que Marx teve sobre a minha pessoa e sobre a minha formação.

Opinião de:

Nos 200 anos de Karl Marx

No tempo em que ser da Juventude Socialista era, inevitavelmente, ser marxista, até trotskista, como se compreendeu pelos três primeiros congressos da JS, já me conformáva com uma leitura mais social democrata de influência alemã e sueca que, por esses anos se distanciava do grande pensador nascido em Tréveris. 

Pelo Partido Socialista acontecia algo de parecido, mesmo que os fundamentos marxistas se mantenham até mais tarde, assumindo mesmo a terceira força nos delegados ao Congresso de 1981. Só a partir de 1986 se inicia o processo de extração dos conceitos teológicos que haviam consagrado a fundação do PS e que se haveriam de refletir, com matizes várias, nas doutrinas abrilistas. 

O Partido Socialista português, não sendo hoje um partido marxista, tem, só pode ter, na sua base histórica, na sua leitura do mundo, no zoom que faz dos seus ancestrais, o pensamento político de Karl Marx. 

Este 2018 assinala os 200 anos do nascimento de Marx. É um excelente tempo para a ele regressarmos, para dele fazermos a atualização dos paradigmas que o século XIX consagrava e para nele convergirmos na verificação do primado dual de exploradores e explorados, reinvenção da mensagem de Jesus Cristo e que as igrejas, no segundo milénio, excomungarão das suas escrituras. 

O Partido Socialista, através do Portugal Socialista, deveria preparar, para 5 de maio, uma edição especial dedicada a Karl Marx. As suas vertentes, política, económica, histórica, sociológica, religiosa e principalmente filosófica, deveriam colocar, em oposição, marxistas e não marxistas do hoje, mas todos do espaço que é representado, neste nosso país, pelo PS. 

A interpretação marxista em Portugal é diferente da que se verifica em quase todos os restantes países da Europa. É, em boa verdade, o resultado do nosso permanente afastamento dos imensos promotores de inteligência que os dois séculos antes deste formataram a Europa e se atravessaram nas primeiras guerras globais. É também verdade, que a seguir a instabilidades monárquicas e republicanas e a uma longa ditadura, com uma forte presença do minifúndio mental, os portugueses se revelaram sempre pela moderação que é, pour cause, mediania. O papel do marxismo, nas suas diversas ponderações, não deve, nestes dias, estar alheado do pensamento político do PS. É, aliás, essa a obrigação que se impõe após a consagração, para já bem sucedida, de uma aliança com partidos que ainda se afirmam marxistas. 

O PS, para além da edição especial do Portugal Socialista que se propõe, deveria promover um conjunto de debates sobre o papel de Karl Marx no tempo que vivemos. E para que essas debates possam cumprir a reivindicação de um país equilibrado, que sejam realizados em todos os distritos em colaboração com as Universidades e Politécnicos. 

Estou certo que o PS ganhará com este regresso, mesmo que possam nascer novos marxistas que nos imponham novas lutas internas.