Não importa que não haja aulas. Tem é que haver exames.
E se assim o pensou melhor o executou. As evidências estão aí: o insucesso, depois de vários anos de melhoria, voltou a aumentar e as desigualdades na acessibilidade à escola deixaram de ser preocupação para a equipa ministerial, liderada por Nuno Crato, com reflexos evidentes para os alunos oriundos de classes sociais mais desfavorecidas ou para aqueles que necessitam de apoios especializados.
Porém, Nuno Crato foi sempre embrulhando esta sua saga num discurso de “rigor”, de “qualidade” e de “conhecimentos”, como se tudo quanto se fez, em matéria de educação, até 2011, não tivesse estes atributos que agora este ministro, qual cavaleiro vingador, iria imprimir no sistema educativo.
Foi neste contexto que foram impostos os exames do 4º e 6º anos de escolaridade, uma decisão que não encontra paralelo na generalidade dos países europeus.
Para os cultores deste modelo é imperioso “examinar” os alunos a todo o custo, pois radicará aqui o alfa e o ómega para a qualificação do sistema educativo.
As provas de aferição, que existiam, como reguladoras, não serviam estes superiores e absolutos propósitos e daí terem sido substituídas pelos exames.
E aquilo que esta obsessiva “examinite” está já a gerar é uma instabilidade absoluta nas escolas e uma completa alteração, para muito pior, da escola pública.
Com a introdução destes exames, o terceiro período deixou de existir em Portugal. As escolas são encerradas, genericamente, durante uma semana, com as consequências negativas que daí advêm para toda a comunidade, ainda por cima, num ano que começou atrasado devido aos erros na colocação de professores; e toda a relação pedagógica coloca no seu centro o exame final, tarefa que nunca deveria esgotar a missão de qualquer escola. Uma escola tem de ser muito mais do que um debitar momentâneo de conhecimentos. E o aprender a fazer? E o aprender a ser? E o aprender a viver juntos?
Para além disso, os professores, nesta teoria, são transformados em máquinas de uma linha de montagem e deixam de ser pedagogos. É que as peças, ou seja, os obsessivos conhecimentos fundamentais, das disciplinas fundamentais, têm que ser “encaixados nos alunos” exatamente na posição superiormente determinada, independentemente das reais necessidades dos alunos e das turmas. E tudo isto até meados de maio!
Estamos, pois, perante uma situação insustentável que vai ao arrepio das diretrizes internacionais, nomeadamente das da OCDE, uma relevante e insuspeita, como se sabe, organização em matérias educativas.
Não importa que não haja aulas. Tem é que haver exames!