NADA FICARÁ IGUAL
Depois de 17 de junho, a verdade é que nos sentimos todos mais vulneráveis. Os dias que se seguiram, que deviam ter sido de luto, de reflexão, de recato, foram um desfilar de acusações, de gritaria, de insultos. E quando as feridas começavam já a sarar, quando se começavam a delinear soluções, quando o país, aos poucos, dava alguns passos em frente, a 15 de outubro, tudo se repetiu. E repetiu-se ainda de forma mais devastadora, com mais força, e voltou a haver mortes. Perderam a vida nos incêndios de 15 e 16 de outubro, até à presente data, mais 44 pessoas. E se este número não foi maior, tal deveu-se em parte aos ensinamentos que a tragédia de Pedrógão Grande nos trouxe. Ainda assim, morreram mais 44 pessoas. E voltou o desfile de emoções, os dedos em riste, a falta de respeito pelos que perderam a vida e seus familiares e amigos. Mais uma vez, em vez de as atenções estarem centradas nas vítimas e no sofrimento causado pela tragédia, acabaram por estar centradas nos que, com os órgãos de comunicação atrás, de cara fechada e voz grave, apareceram de dedo em riste a exigir culpados. Não exigiam explicações, não exigiam soluções, não exigiam sequer o respeito pelo sofrimento das vítimas, exigiam sim culpados. E fizeram-no, apenas como arma de luta partidária. E usaram sem pudor a tragédia e o sofrimento alheio.
Na passada semana, foi discutida e votada em Plenário da Assembleia da República uma Moção de Censura ao Governo. Foi chumbada. O que se pode exigir ao Governo, é a análise do que se passou, para que nunca mais volte a acontecer. Algo mudou nos últimos anos, e só não o reconhece quem insiste em não querer ver. Mesmo à noite, as temperaturas continuam elevadas. Isto é sério.
Depois destes incêndios, sentimo-nos todos mais vulneráveis. O nosso conceito de segurança foi afetado. O conceito de incêndio de verão deixou de ser apenas florestal, e todos percebemos agora que a força destes incêndios era tal que, por mais meios que houvesse, nada a podia parar. É isso que nos dizem aqueles que assistiram a tudo: “Foi algo como nunca vi…”, “Por mais meios que houvesse, nada o (o fogo) podia parar”. Os fogos chegaram às aldeias, às vilas, às cidades. Entraram pelas nossas casas adentro, e o cheiro a queimado ficou entranhado nas nossas roupas, os nossos olhos passaram a ver cinzento onde antes viam verde. Já nada será como antes. É mais que tempo de muita coisa mudar. Para que não se volte a repetir.