MUDAR A EUROPA
Os líderes do PS e do PSOE levaram à reunião magna dos socialistas europeus o documento “Novo Impulso para a Convergência de Portugal e Espanha”, preparado e negociado ao longo de vários meses.
Logo a seguir às eleições primárias, o Secretário-geral do PS lançou o desafio: Qual a alternativa socialista à política austeritária da direita e ao radicalismo dos partidos extremistas? Como financiar o programa de recuperação económica para melhorar a competitividade e retomar a convergência? A resposta é dada no referido documento e passa pelo reforço das transferências financeiras para custear reformas estruturais, com a novidade de os contratos serem da iniciativa do próprio Estado-membro, em função das suas necessidades, e assentarem em investimentos estruturantes para a convergência em vez de seguirem a cartilha neoliberal das “reformas estruturais para a competitividade”. Para Portugal foram definidas cinco áreas prioritárias: educação e formação profissional; modernização do Estado, em especial do sistema de justiça; reabilitação urbana e eficiência energética; inovação e empreendorismo nas PME; recapitalização das empresas.
Trabalhar com rigor e construir consensos foi a prática que deu frutos. A comemoração do 30º aniversário da assinatura dos tratados de adesão de Portugal e Espanha à EU (12 Junho 1985) foi o momento escolhido para a aprovação do documento que visa “virar a página da austeridade” e “devolver a esperança e a confiança no projeto europeu” que, há 30 anos, sob a liderança de Mário Soares e de Felipe González mobilizou os cidadãos de ambos os países.
Já participei em vários congressos do PSE, com agendas pertinentes, onde foram aprovados documentos sempre bem elaborados e muitas vezes interessantes. Para mim, o melhor foi o VII, realizado na Alfândega do Porto, em Dezembro de 2006. Inesquecível. Não pela inusitada trovoada que desabou sobre a cidade invicta. Foi o melhor pela organização exemplar, pelos temas em debate e pela quantidade e qualidade dos participantes. Uma verdadeira reunião da família socialista europeia, em que também participou, pela primeira vez, o líder do Partido Democrático dos EUA, Howard Dean. Na foto de família desse inesquecível congresso, é possível encontrar Jacques Delors, François Hollande, Ségolène Royal, Romano Prodi, então primeiro-ministro de Itália, o presidente da Sérvia, líderes dos partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas de toda a Europa, Comissários e deputados europeus, e o ex-primeiro-ministro dinamarquês e presidente do PES, Poul Rasmussen.
O X Congresso do PSE foi um congresso morno. A anunciada disputa entre o recandidato presidente, o búlgaro Sergei Stanishev, e o ex-ministro de Filipe González e ex- presidente do PE, Enrique Barón Crespo, não chegou a aquecer os motores, uma vez que o ex-ministro espanhol retirou a sua candidatura logo na sessão de abertura.
Houve debates sobre temas de grande atualidade – democracia, paz e emprego – e intervenções dignas de registo como, por exemplo, a de Elio Di Rupo, ex-primeiro-ministro belga e da presidente da juventude socialista europeia (YES), Laura Slimani. Mas foram os líderes ibéricos, António Costa e Pedro Sanchez, que marcaram a agenda e fizeram a diferença. Se o documento por eles apresentado e aprovado pela influente família socialista for posto em prática e o modelo proposto funcionar como um verdadeiro projeto-piloto para a zona euro, o Congresso de Budapeste pode ficar para a história como aquele que mudou a Europa. Como um marco de viragem da “Europa dos mercados” para a “Europa dos cidadãos”, como referiu António Costa.