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Melhoramento Humano

Melhoramento Humano

Há milénios que o ser humano tem explorado as mais variadas formas de melhorar a sua qualidade de vida. Em momentos diferentes enfatizamos as contribuições de um ou outro domínio do conhecimento nesse processo. Mas foram as contribuições complementares das ciências naturais e sociais e das humanidades que nos ajudaram a construir narrativas ricas e férteis.

Opinião de:

Melhoramento Humano

Começamos por intervir no ambiente “natural”. Desenvolvemos a agricultura e a pecuária, aprendemos a construir abrigos, sistemas de saneamento e de acesso a água potável, estradas, pontes, barragens, centrais de energia e meios de transporte cada vez mais sofisticados.

A evolução no ambiente “social” também foi impressionante no mundo que apelidamos de livre. A Magna Carta inicia o fim das monarquias absolutas, conquistamos a liberdade religiosa, abolimos a escravatura, demos o direito de voto às mulheres, instituímos direitos fundamentais como os dos trabalhadores, das mais variadas minorias e dos doentes, e protegemos a privacidade e a autonomia dos cidadãos. As tecnologias da informação deram também passos gigantescos para facilitar a comunicação e o acesso a inúmeras fontes de informação. Mas o preço, medido em termos de vidas humanas que lutaram por estes avanços, cifram-se certamente nas centenas de milhões.

No que diz respeito ao nosso ambiente interior “fisiológico e mental” os avanços não foram menos impressionantes. Os antibióticos e as vacinas, entre tantos outros fármacos, assim como os enormes desenvolvimentos no diagnóstico, na prevenção e no tratamento, permitiram que, em pouco mais de século e meio, o nosso tempo de vida média duplicasse. Mas foi certamente a educação, ao estimular a curiosidade, a imaginação e o empenho que mais contribuiu para o nosso melhoramento cognitivo. Foi o conhecimento que nos abriu novos mundos e novas formas de nos olharmos e de ver os outros. Quem não se lembra do primeiro deslumbramento de uma descoberta inesperada? Um conceito novo, um texto, um concerto, um museu, uma pessoa, um lugar que nos permitiram imaginar hipóteses ou narrativas diferentes.

Mas hoje somos capazes de intervir na nossa própria “biologia”. Novas tecnologias permitem “ver sem mexer” e de forma detalhada o funcionamento dos nossos órgãos. Novos fármacos e dispositivos personalizados permitem intervir diretamente nesse funcionamento. Podemos selecionar embriões com determinadas caraterísticas genéticas e até “editar” genes específicos. Sabemos estimular o cérebro eletricamente e de o ligar diretamente a computadores, permitindo controlar robôs à distância. A biónica está a dar passos impressionantes neste domínio. Hoje, nem a procriação nem a morte medicamente assistidas são novidades. E a substituição de células “estragadas” por células estaminais embrionárias humanas está a ser testada em inúmeros centros de investigação por esse mundo fora. 

Estaremos mesmo a ser confrontados com o tal “Admirável Mundo Novo” de A. Huxley? Será tudo isto “Melhoramento Humano”? Estas inovações fascinam uns e assustam outros. E muitos cidadãos sentem que não têm os conhecimentos necessários para decidir se esta investigação deve ser promovida. Estes serão certamente temas muito pertinentes para Cafés de Ciência futuros na Assembleia da República.