Medidas a nível europeu são ainda “insuficientes”
O presidente do Partido Socialista, que participava no programa semanal da rádio TSF ‘Almoços Grátis’, teceu grandes críticas à União Europeia numa altura em que se enfrenta uma pandemia por Covid-19 e lamentou que o que saiu da última reunião do Eurogrupo tenha sido “essencialmente um guião que pode e terá que ser desenvolvido no âmbito da próxima reunião do Conselho Europeu”. Por isso, “não há neste momento meio de saber qual o impacto da ajuda europeia na recuperação portuguesa até conhecermos o desenho final desses apoios na sequência do próximo Conselho Europeu”, frisou.
“O que o Eurogrupo acabou por fazer foi a definição de alguns instrumentos adicionais de resposta à crise”, explicou Carlos César, que lembrou que “o Eurogrupo decide por consenso e não por maioria, por isso raramente os acordos representam o ponto de vista apenas maioritário”, o que quer dizer que “o Eurogrupo não funcionou como um grupo de europeus”.
“A Holanda – para não falar de outros – comporta-se neste processo como um país terceiro, por isso o acordo alcançado assemelha-se mais a uma linha de bloqueio do que a uma linha de partida”, lançou o presidente do PS, que afirmou que, mesmo que tenha havido algum avanço para alguns países, “certamente não foi uma vitória, muito menos uma vitória que se possa dizer da União Europeia”.
Para Carlos César “está em causa uma perceção por parte dos povos europeus da utilidade, ou não, de termos um Governo europeu, de termos uma União Europeia e também essa perceção dessa utilidade tem muito a ver com o comportamento reincidente de vários países”.
“Porventura nós estamos a pensar se a Holanda devia ou não continuar na União Europeia, mas também temos o direito – e aliás o dever – de pensar se países como a Hungria devem ou não continuar na União Europeia, e é possível que a Holanda pense se a Itália deve ou não continuar na União Europeia”, disse Carlos César, alertando que “o que é necessário é que, nesta concertação que se procura no âmbito europeu, os resultados práticos sejam suficientemente esclarecedores”.
O dirigente socialista defendeu que as decisões que têm sido tomadas a nível europeu “têm sido insuficientes” e referiu que a reunião do Conselho Europeu marcada para 23 de abril, “que está a ser no plano diplomático intensamente preparada, e para a qual ficou quase tudo para resolver, vai ser essencial para essa avaliação futura”.
Carlos César advertiu que todos “temos que ter consciência de que nada se pode fazer de sustentável num país como o nosso, e em outros, sem a ajuda europeia e por isso é essencial que, para além destas medidas que já foram tomadas a diversos níveis, o Conselho Europeu possa trazer outra luz e outra capacidade de ajuda e de intervenção que não nos comprometa a prazo”. Depois desta crise, Portugal não pode “ter empenhado todos os instrumentos financeiros possíveis” para recuperar e ter alguma retoma económica.
Governo português está a apostar na reativação económica
O presidente do Partido Socialista elogiou depois a atuação do Governo português e garantiu que, “se não tivesse havido estado de emergência, nós teríamos uma mortalidade que teria subido francamente”, sendo que Portugal está hoje “com uma taxa que poucos países têm melhor no espaço europeu”.
Carlos César salientou ainda a opção do Executivo “de dar prioridade a um plano para as empresas, designadamente para executarem projetos que tinham sido aprovados no programa europeu 2020”, bem como a aceleração do investimento publico, o que “será muito importante do ponto de vista da reativação económica e dos níveis de emprego”.
“Temos uma conduta política estabelecida no âmbito do processo de recuperação e de retoma da atividade económica e de recuperação da crise e a ideia é que, como o próprio primeiro-ministro repetidamente o tem dito, não vale a pena colocar no centro das políticas de recuperação e de retoma a questão da austeridade”, assegurou, uma vez que é certo que “não há recuperação se não houver, em simultâneo, reativação de atividades económicas e a manutenção de uma capacidade mínima ao nível de consumo e ao nível de rendimentos”.
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