Mário Soares foi “o rosto e a voz da liberdade”
Na ocasião, António Costa lembrou que foi Mário Soares, em 1974, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, que conduziu o processo de restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a Índia, após quase duas décadas de corte de relações entre os dois países, por causa da recusa portuguesa em entregar as províncias da chamada Índia portuguesa Goa, Damão e Dio, Dadra e Nagar-Aveli, ao Estado indiano.
Para António Costa, com a morte de Mário Soares, Portugal perdeu aquele que foi “tantas vezes o rosto e a voz da nossa liberdade”, um homem, como sublinhou o primeiro-ministro, que “durante toda a sua vida” se bateu pela liberdade, tendo sofrido, durante a ditadura do Estado Novo, “a prisão, a deportação e o exílio”.
Mas o fundador do PS, como acrescentou o também Secretário-geral socialista, não esgotou nem limitou a sua luta pela liberdade ao período da ditadura. Continuou a bater-se, como recordou, pela liberdade e pela democracia logo nos primeiros dias após a revolução do 25 de abril de 1974, razão pela qual a “ele se deve ter-se salvo a revolução e os valores defendidos por abril”.
Mário Soares, como aludiu ainda António Costa, é alguém a quem “muito devemos e a quem ficaremos eternamente gratos”, lembrando ainda o seu papel determinante para “pôr fim ao colonialismo” e de ter sido ele o principal obreiro pela abertura das portas da Europa a Portugal, afirmando que a perda de Mário Soares “é a perda de alguém que é insubstituível para a nossa História”.
Apesar de não lhe ser possível estar presente fisicamente nas cerimónias fúnebres, António Costa afirmou que os momentos “menos formais” da sua visita de Estado à Índia “vão ser eliminados”, de modo a poder acompanhar os dias de luto pela morte do antigo Presidente da República, com a solenidade que a ocasião exige, referindo que irá dirigir uma intervenção em vídeo para ser emitida na cerimónia que terá lugar no Mosteiro dos Jerónimos.
António Costa lembrou ainda a última vez que teve ocasião de falar com o antigo Presidente da República e fundador do PS, um encontro que teve lugar no passado dia 23 de julho, aquando da homenagem que o Governo prestou a Mário Soares pelos 40 anos da posse do primeiro Governo Constitucional, uma homenagem, como acentuou o primeiro-ministro, que lhe foi “prestada em vida, como ele merecia, por tudo aquilo que ele deu ao país” e aos portugueses.
Ninguém substitui Soares na história do Portugal democrático
Num artigo também hoje publicado no Diário de Notícias (DN), António Costa evoca Mário Soares como uma personalidade que “nunca resignou nem desistiu”, porque a sua imagem sempre foi a de um homem livre.
Mário Soares, como escreve ainda o primeiro-ministro, nunca existiu “pelo poder, mas pela liberdade”, tendo sido sempre assim quer no combate à ditadura, quer na defesa da revolução perante a “deriva totalitária”, tendo-se batido contra o colonialismo, pela integração europeia e manifestado o seu repúdio pela “mercantilização da União Europeia”.
Lembrou ainda a “firmeza das suas convicções”, quanto ao que considerava ser o essencial, o que lhe dava a “força e a coragem para todas as ruturas” que se impunham e lhe permitia “esquecer agravos, criar amizades com adversários e conciliar os inconciliáveis”.
“Não há ninguém insubstituível? Sei que ninguém substitui Mário Soares no lugar que é seu na história do Portugal democrático”, conclui António Costa.