José Luís Carneiro reagiu de forma contundente às declarações do primeiro-ministro, Luís Montenegro, que acusou o PS e o PCP de estarem a manobrar a greve geral convocada pela CGTP e pela UGT para 11 de dezembro.
Tais afirmações revelam, disse o líder do PS aos jornalistas, “uma visão pouco democrática e pouco tolerante”, constituindo “uma atoarda contra valores consagrados há 50 anos”.
Em declarações feitas à margem de uma iniciativa da Rota pela Coesão e Valorização do Território, que decorreu esta manhã em Almada, o líder do PS sublinhou que a reação do chefe do Governo demonstra “desconhecimento sobre a história e o significado do pluralismo sindical em Portugal”.
E lembrou que, desde 1976, o PS esteve na linha da frente da defesa da independência e da diversidade da representação sindical.
Neste sentido, frisou igualmente que “foi no Partido Socialista que nasceram algumas das principais iniciativas políticas destinadas a garantir a liberdade e a autonomia do movimento sindical”.
José Luís Carneiro criticou fortemente o primeiro-ministro e o Governo da AD por terem “faltado ao respeito aos trabalhadores portugueses e às suas organizações representativas”, nomeadamente à UGT, uma central sindical que, sublinhou, “merece o respeito de todas e de todos”, e que “integra trabalhadores de várias sensibilidades políticas – sociais-democratas, socialistas e independentes”.
“Recordo ao primeiro-ministro que a UGT tem trabalhadores sociais-democratas, militantes do PSD, socialistas e independentes. É essa expressão plural que o Governo e o primeiro-ministro ofenderam com as declarações que fizeram”, enfatizou o Secretário-Geral socialista, deplorando que o executivo “não reconheça a legitimidade de quem diverge das suas políticas”.
Governo perdeu a vergonha
A propósito, recordou que a UGT tem mantido, ao longo dos anos, uma postura de diálogo e cooperação com diferentes governos, incluindo executivos liderados pelo PSD.
“Há muito pouco tempo, quando houve um acordo de rendimentos entre a AD e os trabalhadores em sede de concertação social, a UGT apoiou esse acordo. A UGT não pode ser útil quando apoia as intenções do Governo e ser ofendida quando diverge dos interesses do Governo”, atirou, José Luís Carneiro, para de seguida sublinhar que o ataque de Luís Montenegro às centrais sindicais representa um grave retrocesso democrático.
“Mostra uma visão pouco democrática, pouco tolerante e até desconhecedora da história e do significado do pluralismo na vida sindical portuguesa”, vincou.
José Luís Carneiro advertiu ainda que, perante a falta de maioria parlamentar, o executivo de Montenegro “já deu provas de não ter pudor em procurar o apoio do Chega para viabilizar propostas que colocam em causa valores humanistas e sociais-democratas”.
“Já verificámos que o Governo não tem quaisquer dificuldades em fazer os acordos que muito bem entende, mesmo violando valores fundamentais e princípios que são estruturantes da democracia portuguesa. Desse ponto de vista, perdeu a vergonha há muito”, rematou José Luís Carneiro.
As reações do líder socialista surgem num contexto político em que se debate publicamente a reforma laboral que o Governo da AD pretende aprovar na Assembleia da República e que, avisa o líder socialista, está a ser conduzida “sem respeito pela concertação social e com base numa estratégia de divisão e de imposição”.