À chegada à Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) para uma sessão dedicada ao Orçamento do Estado, o José Luís Carneiro sublinhou que, ao preservar a estabilidade política, os socialistas estão a conceder um voto de confiança ao país — e não à direita.
Nesse quadro, desafiou o Governo a aproveitar o tempo que tem pela frente para responder às legítimas expectativas dos portugueses.
“O primeiro-ministro tem um ano para mostrar aquilo que vale. Foi isso que o Partido Socialista quis dizer com a abstenção”, resumiu o Secretário-Geral, salientando que a posição do PS é um gesto com sentido de Estado e vincando que o executivo da AD “terá agora de demonstrar se é capaz de responder às necessidades urgentes que Portugal enfrenta”.
Entre as prioridades apontadas pelo PS, destacou a defesa do aumento permanente das pensões mais baixas — proposta que o Governo rejeitou na generalidade do OE2026, mas que o PS voltará a apresentar na especialidade.
“Vamos insistir nessa medida com responsabilidade orçamental, assegurando o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade da Segurança Social”, garantiu José Luís Carneiro, explicando que a proposta prevê uma transferência do Orçamento do Estado para financiar o aumento, sem comprometer a despesa estrutural.
Assinalou igualmente que, em caso de deterioração das previsões económicas apresentadas pelo Governo, o PS propõe que seja mobilizado um ponto percentual do IRC, equivalente a 400 milhões de euros, para assegurar o reforço das pensões em 2027.
“Trata-se de uma proposta responsável, socialmente justa e financeiramente sustentável”, enfatizou.
Condenação às mensagens de ódio e apelo ao Ministério Público
José Luís Carneiro aproveitou também para condenar as declarações do presidente do Chega, André Ventura, que afirmou serem precisos “três Salazares” para acabar com a corrupção, e apelou à intervenção do Ministério Público relativamente aos cartazes da campanha presidencial do líder da extrema-direita.
“São declarações graves e cartazes que incitam ao ódio contra comunidades que vivem integradas no nosso país”, denunciou o líder socialista, pedindo às autoridades competentes que “estejam atentas e apliquem os mecanismos legais para sancionar quem atenta contra os valores da Constituição e do Estado de direito”.
O líder socialista fez notar que o Portugal do salazarismo “foi um dos que apresentou as maiores taxas de mortalidade infantil, de analfabetismo e de emigração forçada pela miséria e pela guerra colonial”.
“Convém que os portugueses saibam que há quem queira regressar a esse passado sombrio — e, pior ainda, triplicá-lo”, afirmou, numa crítica contundente à retórica populista e autoritária do Chega.
Exigência de reparo público do ministro da Presidência
O líder socialista exigiu ainda um “reparo público” do ministro da Presidência, Leitão Amaro, pelas declarações em que acusou o PS de querer promover uma “reengenharia demográfica e política” através da imigração.
“São declarações absolutamente inaceitáveis, que atentam contra a honra e a história democrática do Partido Socialista”, afirmou José Luís Carneiro, considerando que, por se tratar de um dos ministros mais relevantes do Governo, “é indispensável que haja um esclarecimento e um pedido de reparo público”.
Com um discurso centrado na defesa dos valores constitucionais, na responsabilidade orçamental e na proteção dos mais vulneráveis, José Luís Carneiro reafirmou que o PS “continuará a exercer uma oposição firme, construtiva, responsável e vigilante perante as derivas de intolerância e determinado em garantir justiça social para todos os portugueses”.