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Jorge Gomes defende que o país tem “trabalhar em novas soluções de vigilância”

Jorge Gomes defende que o país tem “trabalhar em novas soluções de vigilância”

Jorge Gomes

Numa altura em que o combate aos incêndios se estende por todo o país, Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna, dá uma entrevista ao Expresso. Considera que o dispositivo de combate está bem dimensionado, mas defende também que em alguns anos e em alguns períodos é até exagerado face às necessidades

FOTO JOSÉ SENA GOULÃO / LUSA

TEXTO HUGO FRANCO e JOÃO MIGUEL SALVADOR

 

Quais as medidas que este governo pretende adotar no âmbito da prevenção estrutural contra incêndios?

O Governo decidiu criar um grupo de trabalho interministerial, composto pelas Finanças, pela Defesa Nacional, Administração Interna, Justiça, Economia, pelo Ambiente e Agricultura e pelas Florestas e Desenvolvimento Rural. Este grupo de trabalho irá preparar medidas, nomeadamente na área da prevenção, que serão aprovadas em Conselho de Ministros específico em outubro.

 

É possível, nos próximos anos, diminuir o número de incêndios? Através do reforço de meios de combate aos fogos ou através de um maior planeamento?

É essencial reduzir, de forma muito significativa, o número de incêndios. Para isso, temos de trabalhar em novas soluções de vigilância, incluindo meios tecnológicos, no reforço da fiscalização, na sensibilização para a mudança cultural face ao uso do fogo em algumas regiões e na revisão do regime sancionatório. A alteração do comportamento dos cidadãos é essencial para a redução do número de incêndios. Considero o dispositivo de combate ajustado e consolidado. O planeamento e o ordenamento florestal podem minimizar significativamente a dimensão dos incêndios e as suas consequências, mas não têm uma relação direta com o número de ocorrências. Considero essencial a gestão de combustíveis, com recurso ao fogo controlado, sobretudo nas áreas de pastorícia.

 

O dispositivo atual é suficiente para o combate aos fogos?

O dispositivo está devidamente dimensionado para responder às ocorrências do período de maior incidência de incêndios florestais, que se prolonga de 15 de maio a 15 de outubro. Em alguns anos e em alguns períodos, este dispositivo chega a ser exagerado face às necessidades. Também sabemos que, em alguns períodos, como aquele que estamos a viver, o elevado número de ocorrências combinado com a severidade meteorológica determinam uma maior dificuldade de supressão de alguns incêndios. No entanto, o próprio Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais prevê o empenhamento de grupos de reforço, mobilizáveis para todo o território nacional, de modo a ampliar a capacidade de resposta nos dias mais críticos.

 

Qual a importância do planeamento de território para a manutenção das florestas portuguesas? O que está a ser feito?

A valorização do território português passa, necessariamente, por uma nova estratégia para os espaços rurais e florestais. Sabemos que é uma tarefa muito difícil, sobretudo após décadas de despovoamento e de abandono das áreas agrícolas e florestais. Não sendo esta matéria da competência do Ministério da Administração Interna, direi apenas que é necessário implementar novos modelos de gestão dos espaços florestais que, além da questão económica, tenham associados planos de defesa da floresta contra incêndios.

 

A contratação de vigilantes de natureza pode evitar incêndios de grandes dimensões?

A vigilância das áreas florestais permite, sobretudo, a dissuasão de comportamentos de risco e a sinalização dos incêndios nascentes, possibilitando a mobilização rápida dos meios que permitam extinguir o incêndio na primeira intervenção.