Interesse comum na resolução da crise justifica resposta rápida da Europa
O primeiro-ministro voltou a defender a necessidade de uma rápida resposta europeia à crise económica gerada pela pandemia, sustentando que é preciso, uma vez mais, invocar nesta altura difícil os “valores de solidariedade”, que estão na génese da construção europeia, justificando que resolver a crise “é do interesse de todos” os países da União Europeia.
Para António Costa, perante uma crise que é transversal a todas as economia europeias, sem qualquer excepção, talvez até nem seja preciso estar a “apelar aos valores da solidariedade”, justificando que a “pura lógica mercantilista” é mais do que suficiente para “explicar” por que razão a Europa “tem mesmo de encontrar as soluções que respondam à crise financeira”.
Depois de defender que os egoísmos, mais ou menos nacionalistas, são modelos que não interessam ao futuro dos europeus, nem à consolidação da construção europeia, dando aqui o exemplo da Holanda, que é dos países “mais beneficiados” a nível do mercado interno, o primeiro-ministro aconselha a União Europeia a invocar o seu “instinto de sobrevivência”, defendendo que, se a resposta a esta crise financeira não for “em conformidade” com a gravidade da situação, todas as “pulsões antieuropeias que existem em vários vários países vão sair fortificadas”.
Nota positiva do chefe do Executivo, em todo este processo de desbloqueamento de soluções que sejam capazes de responder à crise, vai, desde logo, para o Banco Central Europeu (BCE), que soube “agir rapidamente”, mas também para a Comissão Europeia e para o Parlamento Europeu, lamentando que a única entidade que tem estado a “enterrar o funcionamento das instituições europeias” seja o Conselho Europeu, sendo por isso necessário “superar a pequena minoria que dentro deste órgão europeu tem estado a bloquear o processo de decisão”.
Ainda a este propósito, o primeiro-ministro lamentou a insistência e a postura de alguns líderes europeus, que têm a arrogância e “a ilusão” de que sozinhos conseguem resolver os problemas dos seus respectivos países, uma atitude que, segundo António Costa, não podia estar mais fora da realidade, garantindo que quem assim pensa “está enganado”, dando o exemplo da Holanda que não pode continuar a insistir em manter a utopia de que sozinha conseguirá “ficar bem se o resto da Europa estiver mal”.
Todos somos precisos
O líder do Governo falou depois do “grande esforço” que Portugal foi capaz de realizar, sobretudo nos últimos quatro, cinco anos, conseguindo que 44% do seu produto (PIB) “fosse de exportações”, sublinhando que, para se ter atingido estes bons resultados, muito contribuíram Alemanha e Espanha, que são “os dois principais clientes do país”, reafirmando que só muito dificilmente Portugal conseguirá “estar bem se estes dois países estiverem mal”.
Para António Costa, ter de encontrar mercados alternativos para as exportações nacionais “com a dimensão do alemão ou do espanhol”, afigura-se uma tarefa muito difícil, realçando que este princípio de grande interligação entre Estados e economias é uma lógica extensível aos restantes países da UE, já que a recuperação da Europa, como defendeu, depende também da recuperação das economias espanhola e italiana, “duas das mais afetadas pela pandemia”.
O primeiro-ministro disse ainda não ter dúvidas de que a crise que hoje atinge fortemente e de forma transversal todas as economias europeias será paga, com mais ou menos apoios comunitários, “pelo esforço de todos” , mostrando-se, contudo, convicto de que Portugal tem todas as condições para poder sair deste período em “melhores circunstâncias do que aquelas em que entrou”.
Já quanto às medidas implementadas pelo Governo, de apoio às empresas e ao rendimento dos trabalhadores, o primeiro-ministro disse estar consciente de que esta iniciativa tem permitido “mitigar a situação”, mas “não resolver o problema”, referindo que vão ser meses “muito difíceis”. Um cenário que será certamente ultrapassado com sucesso, como assinalou, caso “consigamos continuar a conter a pandemia”, permitindo que Portugal aposte num conjunto de novas atividades na área industrial e avançando com a “reabsorção de muitas outras”, o que também se traduzirá “em mais postos de trabalho e em maior remuneração”.