home

“A campanha do PSD tem sido toda de calúnia e de maledicência”

“A campanha do PSD tem sido toda de calúnia e de maledicência”

Entrevista ao Notícias ao Minuto do dia 27 de março de 2019
“A campanha do PSD tem sido toda de calúnia e de maledicência”

De ministro a cabeça de lista do PS às europeias, Pedro Marques, um político com um perfil executivo, como o próprio define, quer levar para a Europa a receita aplicada em Portugal. Acena bem alto a bandeira dos 350 mil postos de trabalho e a redução das desigualdades, feitos alcançados ao longo dos últimos três anos, provando assim aos líderes europeus que, sim, havia alternativa à crise. Alguns, até da Direita europeia, já se renderam, sublinha Pedro Marques em entrevista ao Notícias ao Minuto

Lamenta que os candidatos escolhidos para disputar estas eleições sejam “rostos do passado”. Nomeadamente, Manfred Weber, “o protagonista do pedido de sanções com força máxima na altura do pico da crise”, uma escolha do PPE para a Comissão Europeia, e um candidato apoiado por e CDS.

Pedro Marques diz ser um político “que faz coisas”, ao contrário dos seus adversários, sobretudo da Direita. A Paulo Rangel, que acusa de levar por diante uma campanha eleitoral baseada em “falsidades” e em “tricas”, não lhe conhece trabalho significativo. Sobre Nuno Melo, duvida da sua coerência política sobre a Europa. Não se revê na visão aventureira dos partidos à esquerda do PS, embora repare que estão agora mais “euro-calmos”.

Nesta entrevista, Pedro Marques enfatiza ainda a preocupação relativamente ao crescimento de movimentos populistas, nacionalistas e de extrema-direita, um fenómeno que, acredita, em Portugal “ainda não encontrou palco”. E, da sua parte, garante, não haverá qualquer contributo para “normalizar o discurso da extrema-direita”. O mesmo espera do país. 

Sobre a política nacional e a avalanche de casos de laços familiares no Governo, que Rangel classificou como um gravíssimo atentado ao “princípio republicano”, Pedro Marques defende que tais “acusações cruzadas entre partidos” resultam da falta de agenda e fazem mal à democracia. Mais: “Há uma certa misoginia nesse tipo de ataques”, acusa. 

Trabalhei muito pelo país e é exatamente isso que vou fazer pela Europa

De ministro a cabeça de lista do PS nas eleições Europeias. Quando é que foi convidado por António Costa e que características reúne para ter sido o escolhido?

Fui convidado alguns meses antes da apresentação pública da candidatura. Julgo que as características que procurou o secretário-geral do meu partido têm a ver com o meu perfil executivo. Tenho trabalhado grande parte da vida na causa pública, sempre a fazer coisas concretas para as pessoas, desde autarca a membro do Governo. A maior parte da minha vida foi de facto a fazer coisas concretas, tais como o complemento solidário para idosos, que retirou da pobreza cerca de 250 mil idosos; o programa PARES, que aprovou 400 creches, centenas de equipamentos sociais; a reforma da Segurança Social; e, agora, os investimentos na ferrovia. Pegámos a ferrovia num estado de abandono total e temos hoje mais de 300 quilómetros de obras lançadas – em obra ou concluída. Temos a obra do IP3, para dar outro exemplo, a obra da ponte 25 de Abril… Portanto, o meu perfil é executivo. Uma pessoa que faz coisas, que conhece bem o país. Não tenho estado como residente habitual… Trabalhei muito pelo país e é exatamente isso que vou fazer pela Europa.

Em que matérias irá defender os interesses de Portugal e com que soluções?

Perguntado dessa forma reconduz-me a explicar-lhe a nossa visão para a Europa e a maneira como vamos defendê-la. No PS pensamos, e eu também pessoalmente, que a Europa precisa de um novo contrato social. Isto decorre do facto de consideramos que a Europa, nos últimos anos, – particularmente desde a criação do euro e do conjunto de reformas de desregulação económica, laboral -, podia ganhar competitividade, mas na verdade, o que resultou foi uma maior desigualdade entre os países europeus que, desde logo também foi uma causa da crise financeira. Mesmo países do centro da Europa, que tiveram crescimento económico, tiveram desigualdades internas. E isso fez com que os cidadãos na Europa – praticamente em todos os países, temos sido felizmente a exceção – tenham tido um apelo muito maior pelos populismos e nacionalismos e, em muitos casos, por essa extrema-direita que tem vindo a ganhar espaço, como aconteceu aqui tão perto, na Andaluzia, em que se conseguiram aliar à direita do PP para uma solução de governo. A Europa tem que voltar a governar para as pessoas.

Que significa na prática…

As instituições europeias têm de reconstruir esse pacto com os cidadãos, com as classes médias, que no passado chamámos modelo social europeu e que designamos agora como novo contrato social para a Europa. Significa governar na Europa como estivemos a governar aqui em Portugal durante os últimos três anos, promover a criação de emprego, redução de desigualdades e pobreza, mantendo sempre as contas certas para garantir a total sustentabilidade das políticas públicas.

A Europa tem de regressar a políticas de facto concretas de redução da pobreza e da desigualdade

Aqui [em Portugal], como sabem, conseguimos criar 350 mil empregos neste período, consideramos que é possível e desejável que a Europa também siga um caminho de maior criação de emprego. Embora tenhamos uma situação favorável na Europa, temos de nos focar ainda mais em políticas de investimento e criação de emprego com efetiva convergência entre todos os Estados-membros. A Europa tem de regressar a políticas concretas de redução da pobreza e da desigualdade, implementar o pilar dos direitos sociais e não o deixar no campo dos princípios. Diria, ser tão ambicioso no campo dos direitos sociais como fomos na questão do completar da união económica e monetária.

Avançar, por exemplo, e como instrumento muito importante também para esse novo contrato social que promova uma efetiva estabilização europeia, para a implementação do orçamento da zona euro. É algo por que batalhamos muito, por que batalhou muito o primeiro-ministro português no contexto do Conselho Europeu. Conseguimos que agora haja um mandato para a construção desse orçamento, que é muito importante para a promoção da convergência do ponto de vista europeu e mesmo a longo prazo para a criação de instrumentos de estabilização da própria zona euro. São sempre políticas concretas.

Como por exemplo?

Por exemplo políticas de habitação. Os fundos europeus têm de apoiar as políticas de habitação para as classes médias e para os jovens. Políticas de investimento, como referi, com o apoio do orçamento da zona euro, mas efetivamente políticas de convergência de todos os Estados-membros e não apenas políticas de investimento no centro da Europa; políticas de apoio à igualdade, nomeadamente de género, de combate à desigualdade salarial e também de apoio à estabilização das relações laborais. São de facto políticas diferentes das que temos implementado nos últimos anos na Europa, onde a afirmação da coesão social às vezes fica do lado dos princípios ao invés de se traduzirem em políticas concretas.

Achamos que é preciso regressar à governação para as pessoas, para que estas não sintam esse apelo dos tais populismos e dos tais extremismos. Sempre que as políticas públicas e os políticos não governam para a maioria dos cidadãos, não conseguem interromper as desigualdades, claro que as pessoas vão sentir muito mais apelo a esses extremismos. Nós vamos interromper essa dinâmica. E certamente não queremos que ela chegue a Portugal, e portanto, vamos criar as condições para que Portugal continue a governar como tem governado nestes últimos três anos.

No fundo, o que pretende é replicar na Europa a política conseguida aqui em Portugal?

Sim, no fundo é isso. Isso foi sufragado pelo nosso partido a nível europeu, não é um desejo nosso que não tenha qualquer concretização e adesão por parte dos outros partidos europeus. Quem teve a oportunidade de nos acompanhar em Madrid, no congresso do Partido Socialista Europeu, viu um partido unido, em que aliás a pessoa mais aclamada foi António Costa. E foi esta política que defendemos e executámos aqui em Portugal, e que lá propus enquanto cabeça de lista, que foi aprovada. Este novo contrato social é a matriz do programa do PS europeu e foram muitos os líderes que lá disseram: ‘António, nós queremos fazer lá o que tu conseguiste fazer em Portugal e que diziam não ser possível’.

Se se recordam bem, havia muita gente nas instituições europeias, nomeadamente na Direita europeia, que dizia das duas uma: ou que nós não conseguíamos implementar aquilo com que nos tínhamos comprometido – devolução de rendimentos, aumento do salário mínimo nacional, a redução do IRS – , porque queríamos manter as contas em ordem; ou então, para cumprir essas promessas, ‘espatifávamos’ as contas públicas. Nem uma coisa, nem outra aconteceu. Conseguimos de facto cumprir. E agora podemos dizer na Europa que é possível este modelo alternativo. Havia muito aquele discurso do ‘There Is No Alterative’ … O homem do pedido de sanções contra Portugal é apoiado pelo PSD e pelo CDS

Sim. O TINA.

Nós fomos de facto aqui com a governação concreta do PS em Portugal um exemplo de que sim, de que havia alternativa, de que conseguíamos devolver os rendimentos, repor as desigualdades, sem colocar em causa as contas públicas. E hoje já tem vários responsáveis europeus do período da crise a perguntar: ‘será que podíamos ter feito diferente?’. Já ouvimos isso, várias vezes, de responsáveis da União Europeia.

Infelizmente, a Direita europeia, com o apoio do PSD e do CDS, tem essa escolha extraordinária para cabeça de lista à Comissão Europeia o protagonista do pedido de sanções com força máxima na altura do pico da crise. Jean Claude-Juncker é um exemplo concreto, do PPE, amigo de Portugal, que disse que talvez devêssemos fazer diferente, que deveríamos ter feito diferente. O candidato que é escolhido pela Direita, qual é? O homem do pedido de sanções contra Portugal e é ele que é apoiado pela Direita em Portugal, pelo Rangel do PSD e pelo Nuno Melo do CDS. É uma escolha de passado, mas isso também não me espanta muito porque os candidatos da Direita são de facto candidatos de passado.

Voltando à escolha de António Costa por si para encabeçar a lista do PS. A Direita tem insistido na crítica de que Pedro Marques se aproveitou do cargo de ministro e da legislatura para preparar terreno para esta candidatura. Aceita essa crítica?

Acho essas críticas bastante absurdas. Saí do Governo muito antes da marcação das eleições europeias por parte do senhor Presidente da República. Nem sei se no passado foi assim, sei que não é habitual quando se trata de eleições legislativas, mesmo os candidatos a legislativas que estão nos governos completam os seus mandatos. Nós optámos, eu optei pessoalmente – e houve uma concordância com António Costa – que deveria sair muito cedo. As pessoas que andam a dizer isso, são os mesmos que continuam a exercer os seus mandatos ao Parlamento Europeu (PE), que andam a participar em iniciativas como deputados, a participar em conferências sobre o futuro da Europa, a exercer atividade e apresentá-la como parte do seu currículo e património muito depois das eleições terem sido marcadas. Essa crítica parece-me bastante absurda, devo dizer, e desprovida de sentido.

 Se o meu partido optou por renovar naturalmente não é para fazer tudo igual

Indiferente a essas críticas tem estado António Costa que tem demonstrado grande confiança em si, tendo mesmo afirmado que acha que foi uma boa escolha para dar continuidade “à boa tradição dos cabeças de lista europeus do PS”. É isso que pretende fazer, dar continuidade ao que já foi feito ou, de alguma forma, marcar a diferença?

Há duas questões na sua questão. Primeiro, a escolha feita pelo PS, efetivamente foi muito secundada pelo secretário-geral do meu partido. Evidentemente, é uma honra enorme para mim suceder a Mário Soares, António Vitorino, Maria de Lurdes Pintassilgo – candidatos absolutamente extraordinários que tivemos no passado, tantos que podia aqui nomear. O PS tem tido sempre esta tradição de renovar os cabeças de lista e acho que, neste momento em particular, precisamos de uma Europa de futuro, de uma Europa diferente, que não esteja outra vez a olhar para trás, ao tempo dos cortes, das sanções. Precisamos de uma Europa que mude de paradigma e que volte a governar para as pessoas, mais social. Se acreditamos que a Europa tem que ser diferente e que tem de ter uma mensagem de futuro para combater esses populismos e nacionalismos, foi infeliz que os partidos da Direita repetissem os seus cabeças de lista, em particular cabeças de lista tão associados ao apoio àquele governo de Passos Coelho e depois a Manfred Weber com as sanções.

Quanto à renovação, é uma honra muito grande ser o cabeça de lista do partido mais europeísta do nosso país e naturalmente enfrento este desafio com esse sentido de responsabilidade. Mas se o meu partido optou por renovar naturalmente não é para fazer tudo igual. Contamos com a experiência daqueles que estavam, temos dois eurodeputados que continuam, e reconhecemos e agradecemos o trabalho muito grande de muitos dos nossos eurodeputados deste mandato, mas quisemos de facto apresentar uma mensagem de futuro. Por isso é que a lista tem tanta gente jovem, por isso é que é uma lista novamente paritária, com muita gente com muitas competências diferentes, mas sobretudo gente que faz coisas, com competências executivas e que não somos propriamente os campeões dos sound bites na nossa lista, de facto.

Falava há pouco que foi escolhido por ser um executivo que conhece muito bem Portugal. Até que ponto conhece a Europa?

Desde que comecei a trabalhar, trabalhei sempre em dossiers europeus e em particular na área dos fundos estruturais, o meu primeiro emprego foi imediatamente a trabalhar com fundos estruturais. Com a negociação do 20/30 que iniciámos agora a negociação, vou no quinto quadro comunitário no qual participo na gestão ou na conceção de quadros comunitários de políticas para a Europa. Participo em fóruns europeus, evidentemente. Aliás, participo este fim de semana num ‘think tank’ do qual faço parte há já algum tempo e no qual participo regularmente. Participei em imensos Conselhos Europeus da minha área, quer dos assuntos gerais, quer de política de coesão, quer dos conselhos de transportes como ministro das Infraestuturas, lá atrás no meu tempo na Segurança Social, participei no Conselho Europeu de assuntos sociais e fiz a presidência portuguesa na altura, enquanto secretário de Estado. Portanto, sim, conheço, compreendo a Europa e compreendo-a do lado de quem faz coisas concretas para a Europa evoluir. Essa é a minha abordagem em Portugal e na Europa.

Relativamente a essa experiência nos fundos estruturais, o Público avança hoje [segunda-feira] que António Costa poderá nomeá-lo para candidato a comissário europeu dessa pasta. É um cargo que aceitaria?

O que lhe posso dizer sobre essa matéria são duas coisas. Primeiro, acho que é uma discussão bastante extemporânea. Estamos a disputar eleições para o Parlamento Europeu. A escolha do comissário português é feita pelo governo português, e por isso, pelo primeiro-ministro de Portugal que certamente o fará em função do perfil das pessoas que entenda convidar e da própria pasta que seja atribuída a Portugal. O país tem muita gente competente, felizmente o PS tem muita gente competente que poderá vir a ser eventualmente convocada para esse desafio. A pasta que será atribuída a Portugal será tão mais relevante quanto nós tenhamos a capacidade de ter melhor resultado enquanto Partido Socialista. Porquê? Porque é entre os governos das várias famílias políticas que depois se faz essa definição das pastas a atribuir a cada país. E, claro, se tivermos mais força, como esperamos ter nestas eleições, o Governo português do PS também terá mais força na negociação desse pelouro no contexto da Comissão Europeia. Quanto ao mais, acho que esse tipo de discussão é prematura.

A única coisa que está em discussão agora é a eleição do presidente da Comissão Europeia e aí as escolhas são bastante claras. Nós temos um progressista, dos direitos fundamentais, do estado direito democrático, que é o Frans Timmermans como candidato do PS europeu, o seu principal opositor é Manfred Weber de quem já falámos, o principal rosto das sanções contra Portugal. É uma escolha da Direita europeia que os portugueses devem ter em conta e também devem fazer escolhas tendo em conta a forma como o PSD e o CDS decidiram apoiar este candidato. Esse rosto do passado, dos cortes, das sanções, é o rosto da Direita, e isso tem que ser penalizado nas escolhas dos que estão fartos dos rostos do passado.

Falava na lista do PS como sendo muito jovem. Ela é constituída também por muitas mulheres. É a constatação de que há um crescimento do poder feminino na política?

É desde logo a constatação de uma opção de fundo de política do PS. O Governo do PS propôs uma lei da paridade que entretanto veio a ser aprovada [e já promulgada], houve uma negociação de fundo que permitiu chegar a bom porto e que permitiu aumentar para 40% a percentagem mínima de cada género nas listas políticas e que se aplicará não agora nas eleições europeias obrigatoriamente mas que é já um marco para o futuro em Portugal. É mais um avanço e, mais uma vez, por iniciativa do PS e obviamente partilhada por outros partidos.

No nosso caso, decidimos ir mais além, decidimos voltar a ter uma lista paritária. É de facto muito importante esse aumento da participação das mulheres na vida política e nós queremos ir além disso. Para além de contarmos com um ativo com a competência dos homens e mulheres da lista, contamos que seja sobretudo um sinal do mundo que queremos fazer. Temos muito para fazer ainda na área da conciliação da vida familiar com a vida profissional. Tenho orgulho de ter sido autor da legislação que rasgou horizontes em Portugal, a legislação dos direitos de parentalidade de 2009 é da minha autoria material, enquanto secretário de Estado da Segurança Social, foi aí que passámos a ter licenças de parentalidade, foi aí que os pais começaram a ser incentivados a gozar uma boa parte da licença com resultados concretos positivos mas há muito caminho a percorrer. E há a questão da igualdade salarial onde temos muito trabalho a fazer na Europa. O Frans Timmermans assumiu um compromisso, e eu naturalmente acompanho-o nesse compromisso, de nos próximos cinco anos eliminar completamente o ‘gap’ salarial entre homens e mulheres na UE e essa é também uma das propostas fundamentais que temos para apresentar.

Manuel Pizarro foi nomeado para 9.º lugar da lista, tendo o PS do Porto considerado um lugar “desprestigiante”. Causou algum mal-estar dentro do partido esta escolha?

Não. Pelo contrário. Manuel Pizarro tem estado empenhadíssimo na campanha, tem sido um dos nossos grandes ativos. O Porto é um dos grandes distritos, tem dois lugares elegíveis – um homem e uma mulher – e nós vamos bater-nos evidentemente para a eleição direta de Manuel Pizarro que, na altura, considerou adequada essa escolha. E, como digo, tem sido muito, muito ativo no processo de campanha, tem sido um dos nossos grandes pilares. E nós contamos ter um grande resultado no distrito do Porto porque ali temos muito investimento comunitário apoiado por fundos europeus, temos muitas políticas concretas de melhoria da vida dos cidadãos, de todas talvez possa referir a última de todas tão importante para a descarbonização que é a introdução deste novo sistema de apoio à redução dos passes sociais que no fundo vai para todo o país.

Quais são as expetativas em relação a essa medida?

Temos um milhão de utilizadores de transportes públicos em Portugal. E a nossa expetativa é que muitas centenas de milhares, desde logo nas duas áreas metropolitanas, tenham um aumento significativo dos seus rendimentos. Para muitas pessoas e famílias são muitas dezenas de euros na diferença dos passes e que nós esperamos que induza um aumento significativo da utilização dos transportes públicos, para além do nível de melhoria do nível de vida das famílias. Esta é uma medida emblemática daquilo que disse há pouco de fazer na União Europeia aquilo que fizemos bem em Portugal. Esta é uma medida absolutamente estrutural. No nosso país passamos o tempo a perguntar pelas reformas estruturais.

Pois bem, neste mandato recuperámos a capacidade de investimento nos transportes públicos, nos fluviais, nos metros, nos autocarros movidos de forma mais eficiente em termos ambientais, no próprio transporte ferroviário, no qual lançámos o primeiro concurso para a aquisição de comboios em 20 anos. Portanto, um aumento significativo de capacidade que se procura induzir com esse voltar ao investimento público no material circulante no sistema de transportes públicos, que depois é complementado com esta medida concreta, vai levar a que muito mais gente deixe o carro individual em casa e passe a utilizar o transporte coletivo. É uma medida absolutamente estrutural que afetará positivamente a vida de centenas de milhares de portugueses.

Propaganda eleitoral é fazer coisas disparatadas que não vão ao encontro do interesse público 

Ainda assim, uma certa Direita classificou a medida como uma “bomba eleitoral”. É?

Tudo o que se faz em ano de eleições é chamado de propaganda eleitoral pela oposição. Costumo dizer que já sei quando começa o ano eleitoral porque qualquer coisa que se faça é propaganda eleitoral. Lança um projeto é propaganda, faz uma obra é propaganda eleitoral, acaba uma obra e inaugura-a, é propaganda eleitoral.

Há dias Daniel Oliveira escreveu uma coisa que me parece muito ajustada sobre essa matéria. Propaganda eleitoral é fazer coisas disparatadas que não vão ao encontro do interesse público só porque estamos em ano eleitoral. Se fizermos qualquer coisa boa e estruturante para os portugueses, não estamos manifestamente nesse caso. Um exemplo de propaganda pura foi aquele simulador de devolução do IRS no final do governo anterior. Não consigo encontrar exemplo mais acabado do que essa medida do governo PSD/CDS de fazer uma simulação que manifestamente enganou as pessoas, não houve nenhuma devolução do IRS naquele ano. De facto, enganou as pessoas com fins eleitorais. Isso é que é propaganda eleitoral.

Apesar de ser um executivo e de ter estado envolvido em várias políticas, como já referiu, Paulo Rangel diz desconhecer o seu pensamento político europeu. Dentro do PS, Francisco Assis disse praticamente o mesmo. Quer aproveitar, tanto quanto possível, para os esclarecer?

É mais do que habitual que, em particular, os candidatos da Direita, aproveitem todos estes momentos para tentarem apoucar os seus adversários políticos. Não me parece particularmente inovador, a campanha do PSD tem sido toda assim, de calúnia, de maledicência, não julgo que isso traga pessoas para a política, muito menos eleitores para as eleições. O continuará o caminho que entender. O meu pensamento é o pensamento do meu partido: um partido humanista, reformista, europeísta, é aí que eu estou. Em particular nisso, dividimo-nos e separamo-nos tanto dessa Direita que não tem os mesmos valores que nós, nomeadamente em relação à coesão social, à solidariedade, que tem uma visão austera e individualista da sociedade. E, também, nesse sentido, distingo-me bastante dos que estão à esquerda do PS, nomeadamente os que falam dos aventureirismos da saída da zona euro, da saída do Euro e da Europa [BE e PCP].

Agora, já nem tanto …

Pois. Mais euro-calmos agora, mas de facto muito aventureiros no passado. Talvez agora tenham visto com o Brexit as consequências desse tipo de aventureirismos. Somos mesmo muito europeístas aqui no PS. Mesmo nas fases mais duras, mesmo nas fases do governo ‘mais troikista do que a própria troika’, o que andámos aqui a dizer aos portugueses era que acreditamos na Europa mas que era preciso uma Europa diferente para enfrentar a crise europeia. Nunca pusemos a Europa em causa porque acreditamos que é no espaço da Europa que nos afirmamos no mundo e que a Europa é um espaço de paz e de prosperidade para os portugueses e para os cidadãos do continente como um todo.

Outra das críticas que lhe tem sido feita é a de recusar debater com os seus adversários políticos. Para quando um frente a frente?

Outro exemplo de falsidade. Tem sido uns atrás dos outros. Tem sido a campanha toda assim. A 1 de março ficou marcado o primeiro debate que está marcado para dia 20 de maio. É o primeiro debate entre todos os candidatos dos partidos com assento no Parlamento Europeu. Nas semanas seguintes continuamos a ouvir essas falsidades. É o tipo de campanha que se faz na base das falsidades. Eu lamento esse tipo de campanha. Os portugueses farão a avaliação desse tipo de campanha que andam a fazer do lado da Direita e em particular o dr. Paulo Rangel.

Paulo Rangel só ainda não me acusou de ser o responsável pelo falhanço entre o Donald Trump e a Coreira do Norte

Na mesma linha, Rui Rio diz que vai ser fácil para o PSD porque o PS escolheu um candidato fraco, justificando isso com o desempenho enquanto ministro que o próprio considera ter sido próximo do zero … Como é que lhe responde? Esteve desatento o líder social-democrata?

Rui Rio facilitou claramente a tarefa ao PS quando escolheu outra vez o mesmo candidato, alguém que é um residente habitual, vai para 15 anos na Europa, e a quem não se conhece trabalho significativo, nem no Parlamento Europeu nem em Portugal, nem em benefício da Europa, nem em benefício do país. Rio também facilitou a tarefa ao PS porque hoje temos um fraco, que anda à procura de rumo, mas isso é um problema do PSD em que eu não me meto. O PSD chega a estas eleições Europeias num ambiente que é razoavelmente inédito. Não consegue dizer mal do Governo, não consegue criar aquele ambiente de cartão amarelo porque os portugueses estão satisfeitos com a situação do país. O país criou mais emprego, reduziu as desigualdades, reduziu a pobreza.

Claro, há sempre a ambição das pessoas de fazer mais, há sempre situações para melhorar, mas isso é a governação. A governação é sempre ir melhorando a vida das pessoas. De facto, há resultados para apresentar. E, portanto, o PSD tem de se entreter nesse tipo de tricas. Acho que o PSD esbarrou um bocadinho com o muro da realidade. Veio com o discurso típico de oposição de que o país está pior e de que todos os males do país, da Europa e do mundo são culpa do PS e do cabeça de lista do PS. Mas como o país não está de facto pior, está melhor, só lhes sobra essa campanha. Não conseguem fazer mais nada do que isso. Paulo Rangel só ainda não me acusou de ser o responsável pelo falhanço entre o Donald Trump e a Coreia do Norte. Tudo o resto é culpa do PS. Podem continuar por aí.

Vou trazer aqui à memória um exemplo concreto do meu trabalho. Falávamos há pouco de igualdade de género. Tive de lutar muito como vereador que um governo de Direita autorizasse um acordo para abrirmos uma casa de apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. Outro exemplos concretos, quer na área social quer na área dos transportes. Por exemplo, recuperámos todos os passageiros da ferrovia que o governo anterior perdeu: 14 milhões. Convivo normalmente com a crítica. Quem faz coisas tem que estar disponível para ser criticado. Eu, de facto, dos meus adversários da Direita, tenho um problema: é que não tenho nada para criticar. É o meu problema nesta campanha, não há nada para criticar do trabalho concreto que tenham feito por Portugal e pela Europa. Tenho de conviver com isso. Mas também não é esse o meu tipo de campanha.

A Direita diz ainda que o Pedro Marques está “conformado” com a ideia de Portugal perder 7% de fundos comunitários quando países mais ricos conseguiram ganhar…

Vamos outra vez às calúnias desta campanha. Neste caso, é uma falsidade objetiva. Paulo Rangel, em entrevista à RTP, disse “negociámos com o Governo para que Portugal não perdesse fundos”. Depois vamos ao tal acordo, entre o Governo e o PSD, que é citado nessa entrevista, a única referência que lá está à negociação de fundo é: “os fundos de coesão não podem ser inferiores a preços correntes”. Se tivessem aplicado os critérios da chamada fórmula de Berlim, Portugal teria de facto um corte significativo de fundos, mesmo a preços correntes. Pressionámos a Comissão Europeia, apresentámos os nossos argumentos e conseguimos que a primeira proposta aumente em 1.700 milhões de euros, mesmo a preços correntes, a proposta para Portugal.

Relativamente a?

Relativamente ao quadro anterior. Portanto, mesmo assim, o dr. Paulo Rangel consegue dizer que foi um falhanço esse início de negociação. Estamos na primeira proposta da Comissão Europeia. Ainda não há um acordo fechado. Facto é que em relação ao quadro comunitário anterior por parte do governo da Direita e do então presidente da comissão, Durão Barroso, e em relação ao que está escrito no acordo com o PSD, conseguimos uma proposta sempre melhor e que cumpre int