Indecência
A incontida sofreguidão com que as mais destacadas figuras do PSD – incluindo o Vice-Presidente Marco António e o cabeça-de-lista dos seus eurodeputados, Paulo Rangel – se apressaram a cavalgar e tentaram ampliar todos os sinais de resistência quanto a uma inflexão da política de austeridade e a forma quase histérica como pré-anunciaram os cenários mais catastrofistas, são atitudes inaceitáveis de quem quis atacar o Governo socialista mesmo prejudicando o interesse nacional.
Infelizmente, este tipo de comportamento é tudo menos novo no PSD. Todos nos lembramos da forma como Passos Coelho, em 2011, noutro momento crítico para o interesse nacional, se esforçou por dificultar a negociação do Memorando de Entendimento com a “Troika”, aludindo publicamente a “esqueletos escondidos no armário” e pondo sistematicamente em causa os dados de base da negociação, mesmo depois de validados pela autoridade estatística nacional e até pelo Eurostat. Tal como nos lembramos das numerosas cartas que o negociador do PSD, Eduardo Catroga, fez chegar à Comissão Europeia e à imprensa em pleno decurso das negociações do programa de ajuda externa, sempre no sentido de dificultar a posição negocial do Governo português e apostado em obter um acordo mais austero e mais exigente para Portugal.
E não se pense que o PSD, como partido da oposição, está apenas a “cumprir o seu papel”. De facto, fazer oposição ao Governo é uma coisa, fazer oposição ao interesse nacional é outra muito diferente. A prová-lo está o modo diametralmente oposto como o Partido Socialista se comportou quando estava na oposição, designadamente quando o Governo PSD/CDS, acossado pelo sistemático falhanço das metas orçamentais, tinha de negociar com a “troika” sucessivas avaliações intercalares da execução do programa de ajustamento. Nesses momentos, convirá recordá-lo, a mensagem do Partido Socialista foi sempre no sentido de favorecer a posição negocial do Governo português, contrariando as exigências adicionais da “troika” e defendendo menos austeridade. Agora, a diferença está à vista: o PSD prefere tomar partido contra o Governo e contra Portugal.
É certo, quando começou a constar que as negociações com a Comissão Europeia, embora difíceis, estavam a correr bem e até estaria para breve um entendimento que iria viabilizar o Orçamento do Governo socialista, com reposição dos salários e das prestações sociais, o PSD tratou de tentar “esconder a mão” e multiplicou-se em declarações explicando, pela voz do deputado Leitão Amaro, que não queria “dificultar a posição nacional”. Só que agora já é tarde. O que está dito está dito, o que está feito está feito. E já ninguém poderá apagar mais uma página triste na história recente do PSD.