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Incerteza e paradoxo

Incerteza e paradoxo

A economia apresenta-se incerta e paradoxal, para 2016. Vários são os sinais de incerteza: a continuada descida dos preços do petróleo; a perda de crescimento, julgado impossível, nos países terceiros que haviam crescido em produção, riqueza, consumo e também em arrogância no anteriores dez anos; o crescimento limitado a 1,5 ou 1,6% nos países do Centro da Europa, motores da sua economia; a crise das bolsas chinesas, mesmo que esbatidas pela distância; o efeito das medidas de redução do impacto do CO2 nas alterações climáticas.

Opinião de:

Incerteza e paradoxo

Mas as grandes incertezas são políticas: a crise dos refugiados, os efeitos da brutalidade do exército islâmico, os ataques ao estado de direito, inocentemente tolerados na Hungria e que agora se espalham pela Polónia, grande e influente país, com as restrições que se anunciam à liberdade de informação.

Os paradoxos são visíveis embora explicáveis: a inflação, longas décadas considerada uma hidra, hoje é vista como a salvação da economia ocidental, de molas pasmadas e consumos restringidos por uma austeridade incompetente e suicida. Os EUA, odiados como o centro do imperialismo económico e político, são agora considerados a grande tábua de salvação da economia mundial, pela retoma do crescimento e emprego. A subida das taxas de juro, no passado vista como arma indispensável para controlar a inflação e a sobre produção, agora revela-se essencial para recuperar o sistema financeiro internacional, o aforro e o investimento. A emigração, tolerada, aceite ou incentivada desde os século XIX e XX pelos países mais desenvolvidos que dela beneficiavam em mão de obra, natalidade e consumo, bem como pelos mais pobres que dela retiravam remessas e equilíbrios demográficos, agora aparece associada a mitos culturais e religiosos de destruição de equilíbrios antigos. Receia-se a imigração, quando a devíamos louvar, incentiva-se a emigração, quando a devíamos restringir, pela sangria de recursos humanos de cada vez maior qualidade a que nos condena.

A economia do ano que vem, para Portugal, não será nem o tapete vermelho do novo governo que alguns já mitificam, nem a caminho pedregoso que a direita gostaria que o País trilhasse. Não podemos cometer erros, como julgar a crise já passada, desatando a gastar como antigamente; nem omissões como a subserviência a ditames errados de uma Europa de Bruxelas cada vez mais enfraquecida; nem descuidos como a alienação inconsciente das nossas últimas jóias da coroa. O caminho será difícil, mas não impossível.