Governo faz crescer privados com dinheiros públicos
Menos entregue à negação de uma realidade que os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) bem conhecem e que o INE regista em números, o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, admitiu em entrevista à TSF haver, de facto, a transferência de utentes para os serviços privados, embora desvalorizasse os dados divulgados esta semana pelo INE, que vão nesse sentido.
Mas Leal da Costa foi mais longe, ousando dizer que o INE se esqueceu de referir que, apesar do recuo da oferta pública, não há desinvestimento do Estado no sector porque o crescimento da saúde privada é financiado pelo Orçamento do Estado.
Para o deputado socialista João Galamba, as palavras do secretário de Estado vêm confirmar, de forma clara e oficial, a longa suspeita de que isto se estava a passar, sublinhando, aliás, que “Leal da Costa não diz que não haja dinheiro para a saúde, diz sim que há apenas uma preferência ideológica do Governo pelo desinvestimento no SNS e pela entrega dessas ‘poupanças’ aos privados”.
Refira-se que, a propósito do Dia Mundial da Saúde que se assinalou no passado dia 6, e depois de analisar os dados registados entre 2002 e 2013, o INE revelou dados que indicam uma diminuição de camas de internamento nos hospitais públicos e um aumento nas unidades privadas.
Segundo o INE, em 2002 existiam 28.733 camas de internamento nos hospitais públicos, número que baixou para 25.029 em 2013.
Pelo contrário, as camas nos hospitais privados cresceram de 8.429 para 10.474, no mesmo período.
Ou seja, em 2013, os hospitais oficiais tinham aproximadamente menos 3.700 camas de internamento do que em 2002 e os privados mais 2 mil camas.
Resulta ainda desta análise a conclusão de que diminuíram também os serviços de urgência básica e de atendimento permanente nos centros de saúde.
Perante os números do INE, a deputada do PS Luísa Salgueiro salienta que eles são “indicadores que evidenciam bem os efeitos e as prioridades da maioria no Governo”.
“É o resultado de um desinvestimento nos serviços públicos, onde vão existindo respostas cada vez menos capazes”, lamentou, em tom crítico, a deputada socialista eleita pelo círculo do Porto, apontando igualmente para o que descreveu como “uma política de recursos humanos” que vai empurrando os profissionais de saúde do sector público para o privado.
Em declarações ao AS Digital Diário, Luísa Salgueiro falou também da “concretização de uma opção ideológica que vai gerando cada vez mais iniquidade na sociedade portuguesa”.
“Há um serviço de saúde para quem pode pagar e outro para quem não pode”, concluiu.