Governo é subserviente a Ângela Merkel
Hoje, perante a Comissão Nacional do PS, disse que percorreu já “uma boa parte da maratona, mas que ainda faltam três anos para o objetivo final”.
“Sinto que há uma maior adesão dos portugueses face à ação e às propostas do PS. Desde essa altura que defini que exerceria uma oposição em nome do interesse nacional e que isso obrigaria a firmeza na defesa de valores responsáveis, positivos e construtivos, honrando os nossos compromissos”, declarou.
O secretário-geral do PS criticou a “subserviência” do Governo português face à chanceler germânica, Ângela Merkel, e defendeu que a Alemanha beneficia da “desgraça” dos países periféricos por não haver mutualização da dívida
Na sua intervenção, o secretário-geral do PS fez uma defesa cerrada sobre a necessidade “vital” de haver um programa europeu de investimento em projetos e da necessidade de serem criadas euro obrigações, defendendo ainda a possibilidade de haver um programa comunitário de investimento na ordem dos 100 mil milhões de euros, 40 mil milhões por aplicação de metade do valor dos fundos desaproveitados e 60 mil milhões com a aplicação da nova taxa sobre transações financeiras.
“Se mutualizarmos a dívida, isso significa financiamento para o Estado a preços mais baixos, significa menos défice e menos sacrifícios para as empresas e famílias. Não faz sentido sermos membros de uma União Económica e Monetária e haver países como a Alemanha que se financiam nos mercados a menos de um por cento, como aconteceu esta semana, e outros países como Portugal financiarem-se a cinco, seis, sete oito ou nove por cento”, disse.
Neste contexto, Seguro criticou este desequilíbrio entre Estados-membros da União Europeia e tirou uma conclusão.
“Os países como a Alemanha que se financiam a menos de um por cento estão a beneficiar daquilo que é a desgraça dos outros países”, declarou, embora ressalvando a seguir não desejar que “nenhum outro povo venha resolver os problemas” de Portugal.
Porém, o secretário-geral do PS exigiu “solidariedade” no funcionamento da União Económica e Monetária e criticou a atuação europeia do Governo.
“Este Governo, em relação à Europa, só tem um comportamento: Sim senhora Merkel, faça favor de dizer senhora Merkel. Não é esse o comportamento do PS”, acentuou o líder socialista, contrapondo que o seu partido “não recebe ordens”.
“Apesar de estarmos na oposição temos inciativa, temos propostas e lutamos pelas nossas ideias”, declarou, num discurso em que se congratulou com a perspetiva do PS estar agora cada vez menos sozinho em defesa da existência de uma adenda sobre crescimento e emprego ao Tratado Orçamental da União Europeia.
“Os objetivos do memorando [de assistência financeira a Portugal] não estão em causa, o PS continuará a cumpri-los e a honrá-los. Depois, entendo que é bom para Portugal que os portugueses saibam que há duas maneiras e duas alternativas de governar o país”, sustentou.
Em relação ao Documento de Estratégia Orçamental, Seguro voltou a criticar os procedimentos políticos seguidos pelo Governo.
“O Governo elaborou um documento que vai para além do período de vigência do Programa Económico de Assistência Financeira a Portugal e que vai inclusivamente para além da legislatura. O Governo elaborou esse documento sem ouvir o PS. Enviou-o para Bruxelas sem discuti-lo primeiro no Parlamento”, referiu, fazendo depois alusão às críticas que o PSD fez no ano passado a propósito do PEC IV (Programa de Estabilidade e Crescimento).
“Esqueceram-se disso rapidamente”, comentou o secretário-geral do PS, numa crítica aos sociais-democratas, antes de defender que “era um dever patriótico do Governo procurar o diálogo com o principal partido da oposição” em torno do Documento de Estratégia Orçamental.
Depois, António José Seguro deixou um recado ao Governo e, em particular, ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho: “O PS está disponível para todos os consensos – e não é preciso estarem no memorando”.
“Se houver necessidade de um consenso na justiça para que a justiça funcione melhor, cá estaremos. Mas há uma diferença, porque uma coisa é o consenso e outra coisa é obediência. O PS só obedece aos seus valores e princípios em defesa do interesse nacional”, disse, recebendo uma salva de palmas.
Num discurso em que procurou traçar linhas de demarcação face ao Governo, o secretário-geral do PS apresentou uma diferença “substancial” entre si e o primeiro-ministro em termos de conceção de política social.
“Para nós o desemprego não é uma oportunidade, mas antes um drama e um flagelo social”, salientou.