Foi golpe de Estado
A presidente do Brasil foi “retirada” do seu cargo, para o qual havia sido eleita pelos cidadãos, pelo interesse das oligarquias corruptas e pelo atropelo da Constituição. Todas as decisões que estiveram na base da acusação, usadas na Câmara dos Deputados e no Senado, inserem-se na atividade normal da governação e não incluem o universo criminal. Em todo o processo, que levou ao derrube de Dilma, nada de relevante se encontrou e todos os interesses se jogaram na opção oportunista dos futuros e dos negócios.
Dilma foi sempre uma figura sem grande peso político. Lula da Silva surgiu como o elemento que avalizou a sua “chapa” e sustentou a gestão entre o governo e a quadricula parlamentar. Por isso lhe faltou autoridade para cortar os males pela raiz, por isso lhe faltou a coragem para estancar a contestação palaciana liderada pelo seu vice-presidente.
É costume dizer-se que Portugal não se deve meter na vida política de outro Estado soberano. Compreendo bem a dimensão da recomendação. Mas, garantindo as relações de Estado, não quer dizer que as autoridades portuguesas, designadamente o parlamento, não se devam pronunciar sobre o acontecido. E o acontecido foi muito feio, foi mesmo a suspensão da democracia.
É por isso que não entendo esta espécie de mudez que se vive por cá. É por isso que valorizarei uma proposta que vá no sentido da condenação. Porque hoje foi o Brasil, mas as inovações, para se por em causa os textos constitucionais, acontecem em muitos e bons países. Perante elas importa uma atitude firme, perante elas se relevam os verdadeiros democratas.