ESTRONDOSA DERROTA DO PSD
Em Lisboa, Fernando Medina teve a maior votação de uma primeira candidatura socialista à Câmara. E na Assembleia Municipal alcançou a maioria absoluta. Há 33 anos que um partido no poder não ganhava as autárquicas. Em Alfragide, concelho da Amadora, onde vivo, o PS venceu, pela primeira vez, em mais de 40 anos! O povo votou para que a política do PS, que o beneficia largamente, possa continuar. O líder socialista disse, a propósito, que os resultados eleitorais reforçam a mudança introduzida com o novo quadro parlamentar, o que significa uma aposta forte no acordo de esquerda.
Não creio que a derrota do PCP nas autárquicas o faça arrepender da ‘geringonça’. Os ganhos políticos e sociais e o poder que os comunistas têm de influenciar os destinos do país fazem-me excluir essa hipótese. A quebra eleitoral da CDU explica-se, a meu ver, pela falta de clareza estratégica. Por vezes, o PCP parece estar com um pé dentro e outro fora do acordo de esquerda. Esta ambiguidade tática rende pouco aos comunistas em termos eleitorais e causa alguns problemas na maioria de esquerda e na sua articulação com o Governo. Seria desejável que o PCP estivesse de corpo inteiro na ‘geringonça’. Ganhava o partido e, sobretudo, o país. Quando a direita pressiona, via fracasso eleitoral da CDU, o desmembramento do acordo de esquerda, penso que não será bem-sucedida. Recordo palavras do primeiro-ministro: chamam-lhe ‘geringonça’, mas funciona!
Mas o grande derrotado destas eleições foi, sem dúvida, o PSD. Só se o partido não estiver no seu perfeito juízo – perdoem-me a expressão, mas parece-me a mais adequada – é que Passos Coelho continuaria na liderança. A sua decisão de não se recandidatar a novo mandato era incontornável. Rui Rio apresenta-se como o sucessor mais credível, dialogando com melhor com o PS do que Passos, o que não invalida, porém, o facto de o PSD continuar a ser um partido claramente de direita, seja qual for a nova liderança. Esta circunstância leva-me a afastar qualquer hipótese de bloco central. Sempre disse que é mais contranatura do que o acordo de esquerda, porque o PSD é de direita e o PS, honra lhe seja, não é! A primeira proposta de Rui Rio foi a criação de um novo imposto para se pagar a dívida. Acham que os socialistas a aceitariam? Parece-me já o requiem pelo bloco central.
Uma sondagem da Aximage, divulgada na segunda-feira, dá o PS à beira da maioria absoluta em legislativas. Como tenho dito, as autárquicas catapultam o partido da rosa para uma vitória clara em 2019. A abstenção baixou mais de três por cento nestas eleições, o que foi outra vitória. E a tendência deverá ser a de continuar a baixar, progressivamente, aliás. Não se podia esperar que descesse logo oito ou dez pontos. Mas os portugueses confiam mais, agora, na política e nas instituições. António Costa, cuja liderança no PS e no Governo tem sido muito profícua – os resultados estão bem à vista – sempre disse que era uma alternativa de confiança. E cumpriu!