Esta ainda não é a altura de abrandar o combate
Para António Costa, é ainda cedo para abrandar as medidas impostas pelo estado de emergência decretado pelo Presidente da República, recordando que não há ninguém mais ansioso do que ele próprio para voltar a ver Portugal a regressar à normalidade, defendendo que se o país caísse na veleidade de abrandar as medidas restritivas impostas pelo estado de emergência “correríamos o risco de perder tudo aquilo que já conquistámos até agora”.
Sobre se Portugal atingiu já uma estabilização na trajetória do número de casos de infeção pela Covid-19, António Costa prefere salientar que o número de infetados “ainda não começou a descer do planalto para o sopé”, razão pela qual, como defende, é ainda “muito cedo” para decidir a reabertura da atividade económica, assumindo que o país ainda está perante uma realidade em que continuam a registar-se novos casos e ainda com a possibilidade, como reconhece, de se começar a registar um “aumento do número de mortos”.
António Costa não descartou a possibilidade de o país poder voltar a padrões de alguma normalidade no “final do mês de maio, princípios de junho”, uma vez que nessa altura, como referiu, os níveis da pandemia poderão eventualmente “estar numa situação muito distinta”, reafirmando, contudo, que “sem qualquer evidência científica” que o comprove é desaconselhável fazer prognósticos e que o país tem de manter as atuais medidas de contenção, “enquanto a saúde pública assim o exigir”.
O primeiro-ministro voltou a referir nesta entrevista não ver qualquer razão ou motivo para que “o enorme sentido de responsabilidade que todos têm demonstrado” possa caducar no dia em que for levantado o estado de emergência ou no dia em que se considere que esta primeira vaga da pandemia esteja ultrapassada, lembrando que os portugueses devem estar conscientes de que outras poderão suceder, reafirmando que este esforço que o país e os portugueses têm estado a fazer não pode ser visto como “uma corrida de 100 metros, mas como uma maratona”.
Relançar a economia
Se a batalha contra a Covid-19 assume lugar destacado na prioridade do Governo, o relançamento económico e financeiro do país não deixa igualmente de fixar a atenção do Executivo liderado por António Costa que, a este propósito, anunciou que vai amanhã, terça-feira, reunir com um conjunto de instituições, entre as quais o Banco de Portugal, o Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e a Universidade Católica, e com um conjunto alargado de economistas, para fazer o balanço da atual situação e delinear o “relançamento da economia”. Só depois desta reunião, ou de outras que se poderão seguir, é que “o Governo começará a trabalhar com um cenário de recuperação mais rápida ou mais lenta”, afiançou.
Ainda sobre questões económicas, o primeiro-ministro voltou a referir que ainda não tem nenhuma estimativa sobre a queda do produto (PIB), adiantando, contudo, não ter dúvidas de que “será seguramente radical”. Salientando que a desaceleração verificada no final do ano “estava já a ser contrariada” nos dois primeiros meses deste ano, com a taxa de desemprego e os números do crescimento das exportações a atingirem patamares “absolutamente extraordinários”, António Costa disse aguardar agora pelas medidas com que a União Europeia pretende avançar sobre o fundo de recuperação económica, porque só então, como alertou, “ficaremos a saber se temos uma bazuca ou uma fisga para combater a crise económica”.
Quanto à questão de se o país precisa, nesta altura difícil de luta contra a pandemia da Covid-19, de um governo de salvação nacional, o primeiro-ministro recordou que o Governo que lidera “já atua em regime de salvação nacional”, e “assim vamos continuar a agir”, voltando a defender que é fundamental que a unidade que o país tem demonstrado face à crise de saúde pública seja a mesma perante o período que se seguirá de recuperação da economia”.
O primeiro-ministro elogiou ainda o comportamento do sistema político português, recordando que, apesar de Portugal estar neste momento a viver em estado de emergência, nem a democracia “deixou de funcionar em pleno”, nem a “liberdade de informação foi minimamente beliscada”, sustentando que houve até um reforço dos direitos dos cidadãos, referindo-se, nomeadamente, ao caso dos refugiados que estão em Portugal e que ainda não tiveram oportunidade de regularizar o seu título como residentes, reconhecendo-lhes o direito de acesso ao sistema púbico de saúde.