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Entre a licenciatura e o trabalho precário

Entre a licenciatura e o trabalho precário

Joana Simões, após um período difícil na sua vida, decidiu alterar o rumo do seu percurso académico. A mudança de curso surgiu numa altura em que as dificuldades académicas se juntavam a dificuldades familiares e económicas.

Opinião de:

Entre a licenciatura e o trabalho precário

Esperando fazer tábua rasa das dificuldades que a impediam de avançar na sua formação, mudou de faculdade e deixou a componente  de engenharia, mantendo-se na mesma na área cientifica.

As dificuldades económicas da família resultavam do despedimento do seu pai de uma multinacional que, fechando as suas delegações portuguesas, esperava cortar custos centralizando a sua presença ibérica em Espanha. Devido a estas dificuldades, candidatou-se a uma bolsa de ação social, candidatura que foi recusada, não porque  a sua condição económica não fosse reconhecida como necessitando desse auxilio, mas pelos cálculos de aproveitamento escolar dos anos anteriores. 

O mesmo aproveitamento escolar que havia sido afetado por problemas documentados a nível médico, o mesmo aproveitamento escolar que melhorou significativamente após a mudança de curso e de faculdade, mas cuja melhoria é, agora, irrelevante para esse cálculo.

Sem acesso à bolsa de ação social, resta-lhe agora aguardar pelo resultado de um recurso que ainda pode demorar e, por enquanto, procurar no trabalho precário a forma de financiar o seu percurso académico.  

Depois do trabalho no retalho e restauração (fast food e não só), cuja mistura de baixo salário, precariedade e irregularidades laborais impossibilita qualquer perspetiva de viabilidade, sobra então o também precário trabalho na venda telefónica outbound de pacotes de telecomunicações, sujeita às arbitrariedades das renovações mensais condicionadas ao cumprimento de objetivos pouco realistas.

O condicionamento cada vez mais exigente das bolsas de ação social apresenta-se como tendo um objetivo de exigência e rigor, em linha com ideias propaladas pelo atual governo como necessárias à boa distribuição dos recursos. Mas este condicionamento esconde  uma efetiva diminuição do número de bolsas atribuídas, subvertendo o acesso universal, subjugando-o à situação económica dos estudantes e das suas famílias e pondo assim em causa o esforço de qualificação da população portuguesa, que deveria ser um desígnio nacional.