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EM MEMÓRIA DE ANTÓNIO DE ALMEIDA SANTOS

EM MEMÓRIA DE ANTÓNIO DE ALMEIDA SANTOS

No dia em que nos despedimos de António de Almeida Santos, só ocorre dizer que António de Almeida Santos não morreu. Não morrem as pessoas cuja grandeza de vida vivida as coloca acima do seu tempo ou para além do seu tempo. Aquelas pessoas que podendo ter desempenhado os mais altos cargos na vida pública, o fizeram dando-lhes sempre muito mais do que deles alguma vez receberam. Aquelas pessoas, como Almeida Santos, que mesmo na ausência deixam a marca da sua constante presença no coração dos homens e das mulheres com que se relacionaram.

Opinião de:

A primeira viagem

Almeida Santos será sempre lembrado como um grande patriota e uma das maiores figuras da nossa República democrática.

Por amor ao seu País, combateu, a partir de Moçambique, como advogado e cidadão, pela causa da liberdade contra a ditadura, pela causa dos direitos humanos e em defesa dos presos políticos.

Por amor ao seu País, empenhou-se, após o 25 de Abril de 1974, em alcançar condições dignas para a descolonização, cujos caminhos de concretização nem sempre foram os seus.

Por amor ao seu País, qual Mouzinho da Silveira, revelou-se, em vários governos e no Parlamento, como um dos grandes, senão o maior legislador da fundação e consolidação do regime democrático.

Por amor ao seu País, deu ao Partido Socialista, até ao fim dos seus dias, o melhor da sua generosidade e o Presidente Honorário de todos os socialistas perdurará, para sempre, como um exemplo de dedicação às causas da igualdade, da justiça e do progresso.

Por amor ao seu País, o Presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, merece, nesta casa, um lugar de panteão pelo exemplar testemunho de elevação institucional, de independência, de convivialidade fraterna, de capacidade de inovação e de constante engrandecimento dos valores democráticos comuns a todas as bancadas do hemiciclo.

Por amor ao seu País, o homem de reflexão deixa-nos páginas, muitas páginas do mais fino recorte literário, e tantas delas de meditação profunda e exigente sobre os caminhos do mundo. “Inquietem-se”, interpelou-nos o António Vieira do nosso tempo, ele próprio o mais inquieto com os incomensuráveis problemas da atualidade, refletidos a uma escala global e a fazer-nos tomar consciência de que vivemos num mundo que é de todos e cujo destino a todos responsabiliza.

Por amor ao seu País, Almeida Santos afirmou-se como um fiel cultor da história que nos identifica como Povo e como Nação, como um homem de raízes firmadas e sempre assumidas na sua Beira de infância e na sua Coimbra de juventude, a alma de Coimbra onde a palavra cantada e o som da guitarra transbordaram nele uma humanidade sempre pronta a comover-se e a comover-nos a nós, já com saudades dele, de o ouvir e de o ter por perto.

Por causa do amor ao seu País, o estadista Almeida Santos, o amigo e camarada generoso de todas as horas não morreu. Através do seu legado, perdurará como o que sempre foi: um português de lei. Para sempre, por tanta coisa que as palavras não chegam para dizer, obrigado Almeida Santos.