DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
Uma língua falada por mais de 260 milhões de cidadãos espalhados pelos cinco continentes é um caso único na Europa e no mundo. O seu valor cultural e geoestratégico e potencial económico são incalculáveis. Nessa matriz comum, cada povo da CPLP vai gravando o seu devir histórico e traçando o seu destino. Tanta água nos separa e um mar de palavras nos une. É esse manancial de palavras, de expressões próprias, de características entoações, de múltiplas vias, que constitui o oceano de convergência e património comum, a Língua Portuguesa.
Uma língua, com oitocentos anos de história, que é tanto de Eça de Queirós como de Guimarães Rosa, de Pepetela e Craveirinha, de Baltazar Lopes e Alda Espírito Santo e Xanana Gusmão, tem de perdurar como elo duradouro de ligação entre os vários continentes, enquanto instrumento de comunicação e de negócios e matéria-prima de grandes poetas e prosadores. Poetas e prosadores que, parafraseando Guimarães Rosa, renovando a língua, renovaram o mundo. Poetas e prosadores que, como afirmou Pepetela, “seja qual for o rosto que nós apresentemos, é sempre a Língua Portuguesa: recebe, dá e não perde a identidade”. Unidade na diversidade. Com diferentes sotaques e escolhas lexicais, de forma mais poética ou mais prosaica, abrindo ou fechando as vogais, é em português que comungamos ideias e recordações, que exprimimos sentimentos e volições, que verbalizamos o mundo e afirmamos a nossa cidadania.
Na era da globalização, uma estratégia concertada da língua deve ser para os países que em português comunicam não apenas uma prioridade cultural, mas uma prioridade política. Há uns anos, o então primeiro-ministro António Guterres afirmou ser “tarefa fundamental da comunidade de povos e países de língua portuguesa dar as mãos e trabalhar no sentido de conferir ao português uma dimensão universal”. Palavras inspiradas e premonitórias. A consagração do Dia Mundial da Língua Portuguesa vem reconhecer a sua dimensão universal e representa um importante passo para que a ONU a generalize como língua de trabalho, e não apenas da UNESCO e da OMS, e venha a adotar como língua oficial, à semelhança de outras prestigiadas organizações internacionais como a União Europeia, a União Africana e o Mercosul.
Predestinada a confinar-se à sua geografia original, a Língua Portuguesa, por força da história, mudou o rumo que lhe estava traçado e embarcou para outras latitudes e longitudes, onde lançou sementes, frutificou e deixou marcas indeléveis. Termino com as palavras inspiradoras de Eduardo Lourenço: “Cometemos uma proeza sem repetição. Somos o que somos porque fomos os primeiros a levar a Europa para fora da Europa”.
Viva a Língua Portuguesa!