Edite Estrela incentiva mulheres a serem mais ativas na política e alerta para as desigualdades na sociedade
A socialista falava durante a 25ª edição do Fórum de Lisboa do Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, no passado dia 25 de novembro no Centro Ismaili, na capital portuguesa, que refletiu sobre a relação entre o desenvolvimento e os direitos humanos para o pleno alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, e ainda sobre o modo como o Conselho da Europa pode contribuir para alcançar os propósitos colocados pelas Nações Unidas.
Edite Estrela, membro efetivo da delegação à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE), recordou o seu percurso “como presidente da Câmara Municipal de Sintra, há 25 anos, quando havia apenas três mulheres nessa função em Portugal”. Segundo revela, aprendeu “como era difícil ser mulher no reino dos homens”.
Com esta experiência aprendeu que a comunicação social fala “sobretudo da nossa aparência” e que “as mulheres precisam de provar, diariamente, que têm mérito enquanto o mérito dos homens é raramente questionado”.
Ora, daí a importância de as mulheres nunca desistirem “dos objetivos, continuarem a lutar, não se deixarem intimidar”. “Colocar a metade feminina do mundo ao mesmo nível da metade masculina exige muito mais que mérito”, defendeu Edite Estrela, que sublinhou que “mesmo as boas leis não dão os resultados desejáveis”. “É por isso que são necessárias medidas de discriminação positiva, como o sistema de quotas”, explicou.
Perante a plateia internacional, a socialista mostrou-se orgulhosa por, como membro do Parlamento Europeu, “ter estado na origem da criação do Dia Internacional da Rapariga e de ser autora da proposta de revisão da ‘Diretiva sobre Licença de Maternidade’ e do ‘Relatório sobre Saúde e Direitos Sexuais e Reprodutivos’, que aborda questões controversas, como aborto legal, planeamento familiar, educação sexual, gravidez na adolescência, violência sexual, incluindo práticas prejudiciais, como mutilação genital feminina ou casamento precoce e forçado”.
“Sofri muitas pressões e até manifestações à porta do Parlamento Europeu por parte de movimentos religiosos e partidos de direita contra a livre escolha”, revelou. No entanto, não desistiu e continuou a defender os direitos sexuais, incluindo a legalização da interrupção voluntária da gravidez, à semelhança do que fez no Parlamento português.
Mulheres na sociedade digital
Um exemplo gritante de desigualdade na sociedade de hoje é a falta de mulheres na sociedade digital. “Os últimos desenvolvimentos tecnológicos e digitais, particularmente os relacionados com automação, inteligência artificial e robótica, estão a transformar as sociedades contemporâneas”. Porém, “há uma fraca participação das mulheres nos campos científico e técnico”, alertou.
Edite Estrela recordou que, em 2016, “as mulheres representavam menos de 17% dos oito milhões de especialistas em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), 16% em Portugal”.
De acordo com as últimas previsões, “neste contexto de revolução tecnológica, se medidas não forem introduzidas, as mulheres perderão cinco empregos por cada emprego que ganham, enquanto os homens perderão três”, frisou a parlamentar socialista.
Assim, Edite Estrela deixou o aviso no Fórum de que “é necessário que as mulheres não sejam discriminadas em termos de acesso a cursos de tecnologias e ciências, geralmente mais bem remunerados, e que sejam capazes de conciliar trabalho e vida familiar para poderem exercer funções de direção”.
O Fórum de Lisboa contou também com as intervenções de Jorge Sampaio, ex-Presidente da República de Portugal, da secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, e de Miguel Ángel Moratinos, alto representante para a Aliança das Civilizações, que levou uma mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres.