E AGORA, SENHOR PRESIDENTE?
Para chegarmos aqui, foi preciso derrubar muros e tabus, destruir fantasmas e preconceitos e vencer muitas resistências internas e externas. Foi preciso muito talento, suor e arte para se chegar a um acordo político entre forças partidárias com diferentes histórias, percursos e programas. Foi um enorme desafio vencer as diferenças, no respeito pelas identidades próprias, e chegar a uma plataforma comum. Mas valeu a pena escrever esta página singular da história da democracia portuguesa. E vai valer a pena porque vai melhorar as condições de vida dos portugueses.
Para o PS não havia outra alternativa, tendo em conta o novo quadro parlamentar. O governo da coligação PAF é o mesmo que empobreceu os portugueses, desmantelou os serviços públicos e vendeu o país ao desbarato. Por outro lado, nunca a direita governou com o apoio do PS. Só em 1995 é que a direita não dispôs de uma maioria parlamentar. Nessa altura, foi o PRD que evitou a queda do governo, abstendo-se na moção de rejeição apresentada pelo PS.
Deixar de ser uma força liderante e passar a muleta do governo de direita não honraria a história do partido nem a palavra dada durante a campanha eleitoral. E trairia a confiança dos eleitores que elegeram uma maioria parlamentar de esquerda contra a política de austeridade. O caminho era (e é) difícil, semeado de escolhos e com muita gente empenhada em que o processo corra mal. A solução tem tanto de corajoso e inovador como de arriscado. Mas a experiência diz-nos que todos os grandes feitos comportam risco. A própria vida é um risco.
António Costa teve a capacidade de, na própria noite de 4 de outubro, antever e traçar as linhas orientadoras do caminho a seguir. Foi muito claro quando afirmou que não contassem com o PS para viabilizar políticas contrárias ao seu programa eleitoral nem para contribuir para o derrube do governo sem uma alternativa sólida e credível para apresentar. Depois de um trabalho sério e rigoroso, estão reunidas as condições para o PS, na defesa do interesse nacional e no respeito pelos compromissos assumidos com os portugueses, apresentar uma moção de rejeição do programa do governo PSD/CDS e oferecer aos portugueses um governo alternativo, estável, coerente e duradouro.
Agora, a palavra é do Presidente da República.