Disponibilização pública do espólio de Saramago é uma “homenagem à liberdade”
“Tornar público um espólio é um ato de grande coragem porque é a violação total da privacidade”, disse António Costa, no encerramento da cerimónia de doação, que decorreu no sábado em Lisboa.
O primeiro-ministro destacou depois dois significados deste ato de doação e disponibilização pública do espólio do escritor, por parte da Fundação que recebe o seu nome.
“É uma homenagem à Biblioteca Nacional, e ao papel de todas as bibliotecas, mas tem também um segundo significado”, referiu, lembrando a época da censura prévia à publicação de livros e artigos de jornal, que o escritor vivenciou.
“José Saramago pertenceu a uma geração a quem a escrita foi muitas vezes reprimida, a quem o Estado quis calar e censurar. Libertar o espólio, doando-o à Biblioteca Nacional, é uma última homenagem à liberdade”, sublinhou.
António Costa referiu ainda que a divulgação do espólio torna público “o que está hoje publicado, mas também o que até agora estava nas gavetas.” “É um bom ato de libertação e é um grito pela liberdade”, concluiu o chefe do Governo.
Os textos de Saramago ficarão agora disponíveis ao público na Biblioteca Nacional, sem necessidade de autorização prévia para a consulta, cumprindo o desejo do escritor.
Entre os documentos doados encontra-se o original do romance ‘O ano da morte de Ricardo Reis’, assim como o diploma do Nobel da Literatura, atribuído a Saramago em 1998.
Sem contrapartidas financeiras, a doação inclui uma “cláusula de colaboração permanente” com a Fundação Saramago, proporcionando um novo impulso à identificação e catalogação do espólio, que está ainda por concluir.