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Difícil de entender

Difícil de entender

Está muito difícil de entender o comportamento da nossa direita nos tempos que correm. O CDS/PP dá sinais dispersos de se querer separar, mas retoma os tiques que o tornaram cimento da coligação: agressividade verbal, terminologia psiquiátrica para desqualificar adversários, rigidez ideológica, tão evidente no assistencialismo aos pobres e no apoio às subidas das reformas não contributivas de “tias” e na defesa do indefensável privilégio que construíram de os seus subsídios fiscais à parentalidade privilegiarem os ricos e minimizarem os pobres.

Opinião de:

Difícil de entender

Os do PPD/PSD confirmam o seu estado de negação: ainda se não convenceram de que o poder passou para a esquerda: exibem com galhardia o emblema que inventaram para o seu governo, inauguram fontanários e urinóis em localidades onde detêm o poder local, ausenta-se olimpicamente o chefe do debate parlamentar e refugia-se na sede partidária para anúncios que deveriam ser proferidos nos Passos Perdidos. Pior que tudo, recusam liminarmente qualquer contributo que possa melhorar a proposta de orçamento, anunciando antecipadamente a sua rejeição global, especial e final.

Está patente neste comportamento um desejo onírico: que o partido europeu da sua família política, o PPE, pudesse votar no nosso Parlamento, que as aves canoras e sobretudo as vozes ocultas da Comissão Europeia participassem nas conferências de imprensa das quintas-feiras, no final dos nossos conselhos de ministros. Os sonhos propagam-se à ralé de papagaios economistas, economistas papagaios e comentadores de pacotilha, que já não escondem de que lado vem o dinheiro que os sustenta. Aqui está uma das coisas boas da separação de águas: se, no passado, muitos davam uma no cravo outra na ferradura, tornou-se tudo cada vez mais claro: agora lê-se um artigo, ouve-se um comentário e já não há dúvidas de que lado está o autor. Os independentes e isentos passaram a moeda escassa, logo mais valiosa.

Deixo para o fim uma nota para Costa e para todo o Governo. Os sinais de dissenso com o Governador do Banco de Portugal (BdP) além de nos não ajudarem lá fora, esquecem um facto pouco conhecido: a administração do BdP e sobretudo o seu presidente não têm seguro de responsabilidade civil, nem estão abrigados pelo patrocínio judiciário que protege os membros do Governo por atos legítimos praticados no exercício das suas funções. Ora o Banco e o seu Governador têm neste momento contra si dezenas de processos de indemnização lançados por credores do BES/GES e por fundos de investimento, que os podem reduzir à penúria até à quinta geração. Uma vez fora do banco serão executados impiedosamente. O papel de um governo que respeita a lei deveria ser o de os proteger, legislando nesta matéria. Não o fazer será continuar o aviltante comportamento da tutela anterior e prolongar a sua resistência à saída voluntária.