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DIA INTERNACIONAL DA RAPARIGA

DIA INTERNACIONAL DA RAPARIGA

Celebrou-se ontem, 11 de outubro, o Dia internacional da Rapariga, criado pela ONU em 2011. Há pouco mais de quatro anos, na minha qualidade de eurodeputada e vice-presidente da Comissão dos Direitos da Mulher do Parlamento Europeu, em conjunto com representantes das Nações Unidas, do Serviço de Ação Externa da UE e de ONG, lançámos, em Bruxelas, a campanha a favor da instituição desse dia especial, com o objetivo de sensibilizar a comunidade internacional para a situação em que se encontram muitas jovens adolescentes, vítimas de discriminações, abusos e violência.

Opinião de:

DIA INTERNACIONAL DA RAPARIGA

A Declaração Escrita, de que fui coautora, exortava as Nações Unidas a proclamar um dia mundial dedicado às adolescentes, justificando com o facto de estar provado que as raparigas têm maior probabilidade de sofrer de má nutrição e mais dificuldades no acesso a cuidados de saúde e de educação, estão mais expostas à violência ou intimidação e a serem traficadas, vendidas ou exploradas sexualmente. Para além de serem sujeitas às várias formas de violência contra as mulheres, as jovens adolescentes são também vítimas de práticas “tradicionais nocivas” como a mutilação genital feminina (que só na Europa, onde é criminalizada, afeta anualmente cerca de 180 mil jovens), o casamento forçado e os chamados “crimes de honra”, a gravidez adolescente e não acompanhada clinicamente, a mortalidade materna, etc.

Este ano, para celebrar o dia, as Nações Unidas escolheram o lema “Inovar para Educar”, sublinhando a importância das novas tecnologias e da inovação no acesso à educação. A educação e a aprendizagem ao longo da vida permitem aceder ao conhecimento e à realização profissional e são também condição essencial para que as adolescentes melhorem as suas competências de prevenção e escolha em matéria de saúde, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, e de identificação de pessoas e processos de ajuda em situações de violência.

Em todo o mundo, nunca houve tantas raparigas a frequentar a escola, do pré-escolar ao ensino superior, e a participar no mercado de trabalho formal. Aumentou o número de mulheres doutoradas e investigadoras e a desempenharem altos cargos em organizações internacionais, mas muitas meninas continuam a ser impedidas de aceder à educação pelo simples facto de pertencerem ao género feminino. 

 A jovem Malala, prémio Nobel da Paz, que se tornou num símbolo da luta pelos direitos das mulheres e da resistência contra os talibãs no Paquistão, foi brutalmente atacada por ter defendido o direito e o acesso generalizado das crianças do sexo feminino à educação. Malala esteve em perigo de vida porque, sendo menina, teve a ousadia de querer estudar, de ser corajosa e de escrever um blogue, denunciando violações e atropelos aos direitos das mulheres. 

Lembro-me de ter ouvido Maliki Hamidi, diretora geral da rede europeia das mulheres muçulmanas, dizer que é mais fácil destituir um ditador que alterar a mentalidade de um patriarca. Por isso as ações de sensibilização e a mobilização da sociedade civil são fundamentais para alterar práticas e comportamentos. Eliminar estereótipos e mitos, alterar as representações de género e os valores que têm perpetuado a existência de relações desiguais no meio familiar, escolar e social, são os grandes desafios que temos pela frente. Lá fora e cá dentro. A alteração da lei da IVG, introduzida pelo governo de direita em final de mandato, e a promoção machista à comemoração dos 105 anos da implantação da República Portuguesa, feita pela RTP, são dois exemplos de como em matéria de igualdade nada está adquirido e como as piores práticas surgem de onde e quando menos se espera.