Desenvolver e democratizar o “Espaço” para os cidadãos
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirmou, ontem, que o “principal objetivo” da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, em matéria de política espacial europeia, é criar um “Espaço orientado para os nossos cidadãos”.
“O nosso principal objetivo é a mobilização de cada ator – tanto atores institucionais como o setor empresarial europeu – numa abordagem europeia do Espaço que é orientada para os nossos cidadãos. Um novo Espaço para as pessoas”, disse o ministro durante a sua intervenção na Conferência Europeia do Espaço.
Para Manuel Heitor, esta “abordagem Europeia orientada para as pessoas” deve conciliar os recursos e potencialidades dos diferentes agentes, designadamente “os setores públicos e privados”, bem como o setor industrial, a Agência Espacial Europeias e as agências espaciais nacionais, por forma a promover a criação de “postos de trabalho novos e melhores”, de fomentar a abertura de “novos mercados” e desenvolver “novas capacidades” espaciais que contribuam para a dinamização das “atividades empresariais” em várias regiões europeias e sub-regiões periféricas da Europa, entre as quais os Açores.
“No acesso ao Espaço, é claro que temos de fortalecer as capacidades existentes, mas também diversificá-las e complementá-las com pequenos portos espaciais, e lançadores flexíveis, que irão criar atividades empresarias em cada zona da Europa, quer seja nos Açores, em Kiruna, Andoya ou na Escócia”, defendeu Manuel Heitor.
Face às enormes potencialidades que o Espaço encerra já hoje e que se advinham para o futuro, o ministro entende que o “Espaço é para as gerações presentes, mas também para as gerações futuras”.
De acordo com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a presidência portuguesa da União Europeia (UE) tem um conjunto de “linhas de ação definidas”, que passam por construir uma Europa “mais verde, mais digital, mais resiliente num contexto social e mais aberta para o mundo”, onde o Espaço, face às “capacidades únicas” que possui, pode e deve contribuir para que sejam alcançados os objetivos e metas de cada um dos setores.
“Sistemas espaciais, combinados com a observação da Terra e Inteligência Artificial avançada, podem potenciar uma maior consciencialização, mas também [gerar] novas ações que vão do registo de terras à mobilidade autónoma, passando pela gestão da biodiversidade, o que poderá permitir a liderança europeia na transformação verde e digital”, avançou o governante.
Manuel Heitor acredita que, apesar do contexto adverso criado pela pandemia, presidência portuguesa da UE impulsionar e desenvolver a política espacial europeia de forma a “assegurar a liderança da Europa nos próximos anos”.
“Vivemos tempos sem precedentes, e precisamos de nos assegurar que o desenvolvimento de capacidades europeias espaciais está presente no contexto do plano de recuperação em cada uma das regiões europeias”, afirmou o ministro durante a conferência, a qual contou também com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e com o comissário para o Mercado Interno, Thierry Breton.
Atlântico é espaço privilegiado
Na conferência de imprensa realizada à margem da Conferência Europeia do Espaço, o ministro Manuel Heitor disse que o Atlântico é uma área “critica” para o desenvolvimento de potencialidades espaciais europeias, nomeadamente enquanto “terreno de experimentação”, observação e acompanhamento de fenómenos climáticos e no domínio das comunicações.
Manuel Heitor salientou que os mais recentes relatórios científicos mostram que “as transições climáticas dependem particularmente das interações entre os oceanos e o clima” e salientou a necessidade de se tornar o Atlântico numa área de “ensaio para interações entre novos sistemas espaciais, incluindo observações da Terra, mas também comunicações”.
Neste contexto, o Espaço permite “métodos de observação” únicos que são fundamentais para estabelecermos o “novo equilíbrio que precisamos” nos diferentes domínios.
“Só através do Espaço é que podemos ter, não apenas a consciência, mas também os métodos de observação necessários para entrarmos num novo equilíbrio que precisamos que se opere nos próximos anos, no que se refere à neutralidade carbónica, mas também ao novo equilíbrio entre a atividade económica e o planeta Terra”, sublinhou o ministro.
Para o responsável da pasta da Ciência, o Atlântico vai permitir à Europa “expandir-se para o mundo azul” e desenvolver a interação entre o clima e o oceano, a qual “irá ser crítica nos próximos anos, incluindo na prevenção de pandemias”.
“Se quisermos prevenir futuras pandemias, temos de perceber melhor as questões climáticas subjacentes, começando pelas interações entre os oceanos e o clima. É por isso que a nossa abordagem ao Atlântico é tão importante”, afirmou.
O Atlântico, segundo considerou o ministro, é uma região marítima privilegiada para que se possa construir e “fazer mais”, designadamente por via da construção de uma “constelação de microssatélites” neste oceano.
“Fazer mais significa, antes de mais, desenvolver no Atlântico uma constelação de microssatélites, constituída inicialmente por oito a 16 microssatélites, que irão fornecer dados de alta resolução não só para a vigilância marítima, mas também para atividades em terra”, defendeu o ministro.
O ministro referiu-se ainda à importância de conferir desenvolvimentos ao nível das comunicações, nomeadamente para permitir garantir essas tecnologias em “áreas remotas”.
“Quando observamos o que podemos fazer em áreas remotas, como áreas do oceano, só conseguimos fazer comunicações seguras se olharmos para a ótica e, cada vez mais, para a física quântica. (…) Isso só pode ser feito através de sistemas espaciais”, concluiu Manuel Heitor.