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Desafios para António Costa

Desafios para António Costa

Depois da brilhante prestação de António Costa no debate com Passos Coelho, percebe-se melhor a estratégia da coligação de recusar mais debates entre os dois e de aconselhar Passos a “fazer-se de morto”.

Opinião de:

Desafios para António Costa

Costa foi eficaz na forma e na substância: marcou a agenda do debate, mostrou segurança e domínio das matérias em discussão e foi sobretudo implacável na maneira como desmontou o discurso do governo sobre o estado em que deixa o país. Costa fez o trabalho de casa e colheu os frutos: a generalidade dos comentadores reconheceu que “ganhou o debate”.

O debate decorreu, é preciso lembrá-lo, num ambiente mediático hostil a António Costa e ao PS, dominado por fait-divers alimentados nas redes sociais por ativistas da coligação especialistas em perfis falsos e na propagação de mensagens destrutivas para abafarem a discussão das propostas do PS e esconderam o vazio absoluto das suas. 

Esta campanha é marcada por um défice de pluralismo, patente no facto de as televisões privadas de sinal aberto – SIC e TVI – manterem em exclusividade e sem contraditório, em horário nobre, dois comentadores políticos, ex-líderes do PSD, clara e assumidamente apoiantes da candidatura da coligação PAF, um dos quais protocandidato às eleições presidenciais, o que cria um ambiente de promiscuidade inaceitável em democracia.

António Costa tem ainda desafios importantes pela frente. Desde logo, nos debates que ainda lhe faltam, confrontar o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda com a incoerência das suas posições quando se tratou de identificar o “adversário principal” em momentos-chave da vida do país; retirar ambos os partidos da “zona de conforto” em que se colocam ao criticarem as propostas do PS sem apresentarem alternativas credíveis e exequíveis no enquadramento nacional e internacional em que o próximo governo vai atuar. 

O PCP e o Bloco de Esquerda têm beneficiado do facto de não serem vistos como partidos de governo e por isso nos debates que têm feito com a coligação não são geralmente questionados pelos jornalistas quanto às suas próprias propostas, uma vez que a atenção está focada na crítica ao governo e à coligação em que ambos são eficazes. 

Cabe a António Costa chamar a atenção para a situação cómoda em que PCP e BE se colocam e questioná-los diretamente sobre a irredutibilidade e o irrealismo das suas posições: não conseguem fazer valer eleitoralmente as suas propostas, mas só estão dispostos a apoiar ou participar num governo que as queira adotar, isto é, pretendem impor a um partido que ganhe as eleições que execute o programa com o qual eles perdem eleições. Trata-se de uma noção errada do que é a democracia, que apenas esconde a opção de ambos de se manterem como partidos que se alimentam do protesto, incapazes de assumirem responsabilidades de governo.

Só António Costa está em condições de confrontar os partidos à esquerda do PS com as suas contradições.