Decisão “histórica” de Bruxelas vai ao encontro da visão do PS sobre mutualização da dívida
A proposta da Comissão Europeia, que acrescenta 750 mil milhões de euros ao Quadro Financeiro Plurianual, “é uma boa base de trabalho para a negociação, que se deseja rápida para que as ajudas cheguem onde são necessárias e em tempo útil”, começou por afirmar Edite Estrela durante a audição da comissária europeia Elisa Ferreira na Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus.
Para a parlamentar, estamos perante uma “decisão histórica”, até porque, “independentemente das questões semânticas”, a verdade é que “as subvenções resultam da emissão de dívida mutualizada”, algo que já é defendido “há muitos anos” pelos socialistas e que “foi sistematicamente rejeitado”.
“Ao contrário da reação à crise de 2008, desta vez a Comissão Europeia compreendeu que o momento exigia ação e ambição, compreendeu que era a hora de mostrar a importância geoestratégica da União Europeia e contribuir para o reencontro dos cidadãos com o projeto europeu”, assinalou a também vice-presidente da Assembleia da República.
Assim, Edite Estrela defende que a Comissão Europeia “esteve bem” neste processo, “como também estiveram bem o Eurogrupo e o BCE”.
“Estou certa de que o Parlamento Europeu não nos vai desiludir. O mesmo não me atrevo a dizer do Conselho [Europeu], mas espero que este ano, em que se comemoram os 70 anos da Declaração de Schumann e os 75 anos do fim da II Guerra, os 27 Estados-membros, incluindo os chamados ‘frugais’ ou desmemoriados, estejam à altura do desafio da história”, apontou Edite Estrela com alguma ironia, referindo-se à Holanda, Áustria, Dinamarca e Suécia.
Recordando a entrevista da comissária europeia à rádio TSF, em que defendeu a importância de os países começarem já a trabalhar, a deputada do PS frisou que “Portugal já está a preparar o seu programa de recuperação económica, mais uma vez ouvindo todos os partidos com representação parlamentar e os parceiros sociais”.
O Governo português, que tudo fez para “não deixar ninguém para trás” durante a pandemia, tendo mesmo o seu trabalho “sido apontado como exemplar em muitos países europeus, e não só”, deu também um “contributo muito importante para que se encontrasse uma solução adequada ao combate a esta crise sanitária, económica e social, influenciando com as suas propostas”, salientou a socialista.
Apesar de ainda ser cedo para se tirar conclusões, Edite Estrela mencionou que “já é possível perceber que os países com sistemas públicos de saúde robustos conseguiram evitar o pior”. “Também foi importante o desenvolvimento digital na organização do trabalho e no ensino a distância durante o período de confinamento”, acrescentou a socialista, que considerou “necessário acelerar a transição digital”.