Decidir o vencedor
Comecemos pelo óbvio: seria um grave erro confundir resultados de sondagens com resultados eleitorais. A história política, reforçada com a experiência recente das eleições gregas e britânicas, mostra bem que é o voto do povo que decide, não são as projecções nem os estudos de opinião. No domingo veremos o que é que os eleitores têm a dizer sobre o Governo que tiveram e sobre o Governo que querem.
Convém lembrar, igualmente, que as sondagens não são todas iguais. É certo que há umas de que se fala mais do que outras – e até há sondagens que nos entram em casa todos os dias – mas não devemos menosprezar a disparidade nos resultados obtidos.
Dito isto – e sem entrar agora na discussão das diferentes metodologias e da credibilidade inerente a cada um dos exercícios – há três conclusões políticas que se podem retirar destas sondagens.
Em primeiro lugar, o dado mais importante é que se regista uma clara tendência de reforço da bipolarização entre a coligação de direita e o PS. De facto, parece manifesto que nem se deu em Portugal um fenómeno do tipo Syriza, na Grécia (não há sinais de crescimento muito acentuado de nenhuma das forças políticas à esquerda do PS, que não deverão desviar-se muito dos seus resultados anteriores), nem surgiu um fenómeno do tipo Podemos, em Espanha, ou Cinco Estrelas, em Itália (parece evidente que o PDR e o Livre não conseguiram nesta campanha a dinâmica necessária para superar as naturais dificuldades de implementação de uma nova força política). Isto significa uma coisa muito simples: o PS afirmou-se, indiscutivelmente, como o maior ponto de encontro para a afirmação de uma alternativa política ao actual Governo de direita.
Em segundo lugar, apesar da diversidade de resultados obtidos e do enorme número de indecisos que ainda existem, as sondagens indicam, não adianta negá-lo, que há um risco efectivo de a direita ganhar. Isso significa não só que a questão da vitória está em aberto mas, sobretudo, que a consequência política do voto tem de ser devidamente ponderada pelos eleitores. De facto, o que estas sondagens nos recordam é que estas eleições não são a feijões. Não vamos votar para atribuir o prémio da melhor campanha mas para decidir se Portugal continua com este Governo de direita, disposto a prosseguir a sua desastrosa estratégia de empobrecimento e de austeridade, ou se muda para um novo Governo liderado pelo Partido Socialista, com uma agenda virada para o crescimento e o emprego e para a defesa do Estado Social.
A terceira conclusão decorre das duas anteriores: se as sondagens mostram que a direita pode ganhar e que só o PS pode impedi-lo, então a responsabilidade da esquerda e de todos os portugueses que sofreram as consequências da austeridade é muito clara: concentrar votos no Partido Socialista e dar a vitória a António Costa. Qualquer outro voto, disperso pelos partidos mais pequenos da oposição, significa abdicar de decidir o vencedor e, portanto, favorecer objectivamente a vitória da direita. É por isso que é preciso que ninguém fique em casa, que todos vão votar. E que votem para decidir o vencedor.