Cultura de segurança é vital para as comunidades florestais
Intervindo ontem na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no final de um seminário que abordou o tema “da ameaça à convivência: proteção das comunidades em cenário de incêndio rural”, o primeiro-ministro começou por apontar o que considerou serem “três fatores estruturais de extrema gravidade” com que a floresta portuguesa se confronta, fatores esses que, para agravante, como aludiu, “entrecruzam-se”, elencando as alterações climáticas, o desordenamento florestal e o despovoamento do interior do território nacional.
Neste seminário, organizado pela Estrutura de Missão para a Instalação do Sistema Integrado de Fogos Rurais, António Costa apontou nas soluções imediatas e de curto prazo, para além dos “investimentos em prevenção e em meios de combate aos incêndios”, a necessidade de as populações, pelo seu lado, assumirem também uma “cultura de segurança” no quotidiano das suas comunidades, considerando o primeiro-ministro ser esta, em primeiro lugar, a medida “absolutamente vital” de salvaguarda das populações que vivem nessas comunidades.
Para António Costa, “é uma ilusão” que alguém possa sequer imaginar que é exequível ter “à porta de cada um de nós”, no dia em que exista um incêndio, um bombeiro voluntário ou um profissional, um militar das Forças Armadas ou um elemento da Guarda Nacional Republicana.
“Isto é algo que nunca existiu, nem se prevê que possa vir a existir”, advertiu o primeiro-ministro, sustentando que o percurso mais adequado, deve passar, em primeiro lugar, pelo trabalho de fundo que o Estado tem de fazer, designadamente, “ordenando e dinamizando economicamente a floresta”, a par da “otimização das condições de vigilância e de investimento em meios de combate”, fatores que na opinião do primeiro-ministro não devem excluir, que, simultaneamente, sejam igualmente criadas as condições para que num curto espaço de tempo haja uma “maior resiliência das comunidades rurais”.
Sucesso conjunto
Tomando como exemplo a sequência de incêndios florestais que atingiram o país no verão do ano passado, o primeiro-ministro, depois de garantir que “ficou claro para todos de que o problema não começou nem terminou no Ministério da Administração Interna”, defendeu que de futuro terá de haver em toda esta problemática, tanto na prevenção, como no combate aos incêndios nas zonas florestais, o envolvimento do conjunto dos outros departamentos governamentais, porque, como aludiu, “só fazendo um contínuo de intervenção no conjunto das políticas públicas” se pode alcançar “algum sucesso”.
Quanto às medidas de curto e médio prazo, nomeadamente em relação às questões de ordem económica, António Costa defendeu que a PAC (Política Agrícola Comum) “foi desfavorável à exploração de recursos florestais no país ao longo das últimas décadas”, considerando por isso “vital para uma solução sustentável” e que exista, por um lado, um conjunto de investidores de longo prazo em relação à exploração de recursos florestais, e, por outro lado, que as novas Entidades de Gestão Florestal obtenham sucesso com o seu desempenho.
De qualquer modo, como assinalou o primeiro-ministro, a prioridade não é que haja “expropriações, compra ou a apropriação das frações”, mas antes, como defendeu, uma solução que aponte para a existência de uma entidade com capacidade económica e financeira, capaz de “proceder ao arrendamento do número de prédios suficientes”, tendo em vista, como acrescentou, que esses terrenos passem a ter escala económica suficiente para que a exploração económica possa ser rentável.