Crise na saúde. Controlar os danos, recuperar a confiança
E, com tudo isto, o ministro finge que nada se passa, enquanto vai apregoando querer salvar o SNS, mas na verdade o que faz é ir empurrando os doentes para o sector privado ao não proporcionar capacidade de resposta por parte dos serviços públicos.
Porque chegámos a este estado de coisas é a pergunta que devemos fazer. Não era inevitável uma redução da oferta e da qualidade tão acentuadas, cuja verdadeira dimensão só iremos compreender quando saírem os primeiros indicadores de saúde relacionados com a mortalidade e morbilidade das populações referentes aos anos da crise e da governação do PSD/CDS. Irá sobrar inevitavelmente para o PS o controlo dos danos e a recuperação da confiança no SNS.
Para além das muitas questões que se colocam a quem tem de governar, existem medidas que podem e devem ser implementadas no sentido de responder às necessidades concretas das populações a curto prazo. É o caso de garantir o acesso aos médicos de família em tempo útil e clinicamente aceitável, privilegiando uma política de discriminação positiva de cuidados primários, e o acesso a certos meios complementares de diagnóstico e terapêutica em ambulatório, em especial, onde o excessivo tempo de espera possa agravar o prognóstico de uma forma significativa e muitas vezes até irreversível.
O acesso a programas de gestão do doente crónico é determinante, não só para melhorar a qualidade de vida e saúde dos doentes, mas também para reduzir custos desnecessários. Doentes crónicos com descompensações agudas não podem andar a percorrer médicos ou serviços de urgência sem que ninguém os conheça, com todas as implicações na duplicação de exames e terapêuticas desnecessárias, com o inerente desconforto para o doente e aumento das despesas para o Estado.
A disponibilização de medicamentos essenciais a custos comportáveis pelos cidadãos e de acordo com as suas possibilidades económicas é decisivo não só para melhorar a saúde das populações, mas para garantir um mínimo de solidariedade e coesão social.
Por fim, uma medida urgente: o aumento do número de camas de cuidados continuados, para aumentar as respostas de apoio social e libertar camas hospitalares com doentes sem necessidade de cuidados agudos.