Costa 10 – Passos 0
Acontece que perante a solução que nos foi apresentada, um governo do PS com apoio parlamentar dos restantes partidos à esquerda ou um novo governo de Passos e Portas, não havia qualquer margem para optar. Um governo do PS não se discute, mesmo que em situação política exigente.
Passou um ano e todos os comentadores foram vencidos. O governo não viu qualquer crise, a maioria não oscilou perante qualquer desafio importante, o PS soube estar à altura das circunstâncias.
Não concordo com Pedro Nuno Santos quando ele diz que antes havia uma ala esquerda minoritária e que agora há uma ala direita ultraminoritária. Esta minha discordância é de princípio, no PS não há ninguém que seja de direita. Mas os socialistas mais moderados, os mais portugueses dos socialistas são, continuam a ser majoritários.
O apoio do PS a esta solução é o apoio à moderação de Costa, ao progressivo “cair na real” de todos os que pensavam podermos viver ser Europa e sem globalização. Mas não podemos.
Costa será, muito provavelmente, um dos primeiros-ministros com maior longevidade na função. Os governos de Mário Soares, de Nobre da Costa, Mota Pinto ou Lurdes Pintassilgo; os de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Santana; o primeiro de Cavaco e os segundos de Guterres e de Sócrates tiveram menos tempo de vida se este for até ao orçamento de 2018. Este feito é resultado de uma característica – Costa é um político que não têm igual no tempo que vivemos.
Neste ano Costa ganhou todas as batalhas a Coelho. A primeira, muito significativa, foi a saída de Portas. Podem dizer que Costa não teve nada a ver com isso, mas foi tudo. Portas conhece bem Costa e sabia que a “aventura” duraria mais tempo do que quase todos antecipavam. A segunda, a dos orçamentos. São já dois. Uma impossibilidade na relação com a esquerda mais à esquerda. Quem os garantiu? O cumprimento dos acordos e o fantasma de Coelho a cada dia sentado na primeira fila do seu grupo parlamentar. A terceira, a da Europa. Miguel Morgado disse há uns dias que na Europa ninguém quer saber de Costa. Um erro e uma posição arrogante. A verdade é que na Europa não há quem não queira saber de Costa, pela realidade não esperada da governação, pela sua pessoa, pela consagração de uma política de centro com apoio radical. A quarta, a da boa relação com os restantes órgãos de soberania. Com Marcelo tudo se apresenta diferente, porque entre Marcelo e Passos há um mar de vidas e de passados que os afasta. A quinta batalha, a da comunicação. Ninguém entende Passos, todos, mesmo que quase o “matem” entendem bem Costa. A sexta, a da normalidade. O governo anda na rua como qualquer outra gente, os seus membros não se empinocaram em cima da função, e até conseguem sair dos erros comuns de qualquer ser humano construindo uma realidade diversa, uma torre de Babel governativa, onde todos cabem sem receios e sem corte de cabeças. A sétima batalha, a da leitura de uma boa relação com autarquias e regiões. Tu cá, tu lá, resolvem problemas, cortam caminhos, criam empatias. Costa nunca mandaria piadas desenfreadas a Rui Moreira a propósito de uma lei eleitoral. A oitava, a da equipa. O governo, como todos, tem jogadores internacionais e tem erros de divisão. Mas a verdade é que Costa criou uma forma de organizar a coisa que só muito raramente dá asneira da grossa. A nona, a do combate. Já terão reparado que o estado maior tem mesmo a vocação operacional, as informações e a logística muito bem aprimoradas? Por último, a décima batalha, a do otimismo. Pode parecer, em muitas circunstâncias, pueril. Mas a minha mãe responde fácil à questão do otimismo. Se tivesse um filho tão pessimista e com o mundo às costas cheio de angústias, como tem Pedro Passos, viveria uma vida em constante preocupação.
Passou um ano. Um 10 a 0 no resultado de uma acção política.