home

Costa 10 – Passos 0

Costa 10 – Passos 0

Muitos dos meus camaradas sabem das minhas reservas à solução governativa que encontrámos depois das eleições de outubro do passado ano. Essas reservas entroncaram num património fundador, numa vida com influências várias, até na realidade territorial que sempre representei no parlamento. Muitas dúvidas continuam a existir.

Opinião de:

Costa 10 - Passos 0

Acontece que perante a solução que nos foi apresentada, um governo do PS com apoio parlamentar dos restantes partidos à esquerda ou um novo governo de Passos e Portas, não havia qualquer margem para optar. Um governo do PS não se discute, mesmo que em situação política exigente.

Passou um ano e todos os comentadores foram vencidos. O governo não viu qualquer crise, a maioria não oscilou perante qualquer desafio importante, o PS soube estar à altura das circunstâncias.

Não concordo com Pedro Nuno Santos quando ele diz que antes havia uma ala esquerda minoritária e que agora há uma ala direita ultraminoritária. Esta minha discordância é de princípio, no PS não há ninguém que seja de direita. Mas os socialistas mais moderados, os mais portugueses dos socialistas são, continuam a ser majoritários.

O apoio do PS a esta solução é o apoio à moderação de Costa, ao progressivo “cair na real” de todos os que pensavam podermos viver ser Europa e sem globalização. Mas não podemos.

Costa será, muito provavelmente, um dos primeiros-ministros com maior longevidade na função. Os governos de Mário Soares, de Nobre da Costa, Mota Pinto ou Lurdes Pintassilgo; os de Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Santana; o primeiro de Cavaco e os segundos de Guterres e de Sócrates tiveram menos tempo de vida se este for até ao orçamento de 2018. Este feito é resultado de uma característica – Costa é um político que não têm igual no tempo que vivemos.

Neste ano Costa ganhou todas as batalhas a Coelho. A primeira, muito significativa, foi a saída de Portas. Podem dizer que Costa não teve nada a ver com isso, mas foi tudo. Portas conhece bem Costa e sabia que a “aventura” duraria mais tempo do que quase todos antecipavam. A segunda, a dos orçamentos. São já dois. Uma impossibilidade na relação com a esquerda mais à esquerda. Quem os garantiu? O cumprimento dos acordos e o fantasma de Coelho a cada dia sentado na primeira fila do seu grupo parlamentar. A terceira, a da Europa. Miguel Morgado disse há uns dias que na Europa ninguém quer saber de Costa. Um erro e uma posição arrogante. A verdade é que na Europa não há quem não queira saber de Costa, pela realidade não esperada da governação, pela sua pessoa, pela consagração de uma política de centro com apoio radical. A quarta, a da boa relação com os restantes órgãos de soberania. Com Marcelo tudo se apresenta diferente, porque entre Marcelo e Passos há um mar de vidas e de passados que os afasta. A quinta batalha, a da comunicação. Ninguém entende Passos, todos, mesmo que quase o “matem” entendem bem Costa. A sexta, a da normalidade. O governo anda na rua como qualquer outra gente, os seus membros não se empinocaram em cima da função, e até conseguem sair dos erros comuns de qualquer ser humano construindo uma realidade diversa, uma torre de Babel governativa, onde todos cabem sem receios e sem corte de cabeças. A sétima batalha, a da leitura de uma boa relação com autarquias e regiões. Tu cá, tu lá, resolvem problemas, cortam caminhos, criam empatias. Costa nunca mandaria piadas desenfreadas a Rui Moreira a propósito de uma lei eleitoral. A oitava, a da equipa. O governo, como todos, tem jogadores internacionais e tem erros de divisão. Mas a verdade é que Costa criou uma forma de organizar a coisa que só muito raramente dá asneira da grossa. A nona, a do combate. Já terão reparado que o estado maior tem mesmo a vocação operacional, as informações e a logística muito bem aprimoradas? Por último, a décima batalha, a do otimismo. Pode parecer, em muitas circunstâncias, pueril. Mas a minha mãe responde fácil à questão do otimismo. Se tivesse um filho tão pessimista e com o mundo às costas cheio de angústias, como tem Pedro Passos, viveria uma vida em constante preocupação.

Passou um ano. Um 10 a 0 no resultado de uma acção política.