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Contemporaneidade da obra “Portugal Amordaçado” permite aproximar legado de Mário Soares às novas gerações

Contemporaneidade da obra “Portugal Amordaçado” permite aproximar legado de Mário Soares às novas gerações

Para o Secretário-Geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, Mário Soares nunca deixou em momento algum de acreditar na inevitável queda do Estado Novo. Quando, em 1972, publicou em França o seu livro ‘Portugal Amordaçado’, dois anos antes da revolução de Abril de 1974, o seu “inquebrantável otimismo” dizia-lhe então que a queda do regime estava iminente.

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O auditório dois da Fundação Calouste Gulbenkian foi pequeno para albergar, na passada quinta-feira, a sessão de apresentação da edição revista e ampliada do livro de Mário Soares ‘Portugal Amordaçado’, que o antigo Presidente da República e primeiro líder do PS escreveu em França, em 1972, durante o seu exílio.

No dia em que Mário Soares completaria 99 anos de idade, o Secretário-Geral do PS começou a sua intervenção, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, por invocar o “inquebrantável otimismo” de Mário Soares, que na altura, lembrou António Costa, numa nota bem-humorada, “gerava menos irritação”, e a sua “firmeza de princípios” que lhe permitiu, como admitiu, “defender sempre a autonomia estratégica do PS”, levando-o, em 2015, a apoiar sem hesitações “a formação da geringonça”.

Lembrou depois a viagem de comboio de Mário Soares e de Maria Barroso desde Paris até à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, poucos dias depois do 25 de Abril, uma viagem que António Costa considerou ter sido “essencial para tornar o PS um partido com forte inserção popular”, insistindo na particular personalidade de Mário Soares que muito terá contribuído para o facto de em Portugal, “ao contrário do aconteceu na Rússia em 1917, os mencheviques terem vencido na rua os bolcheviques”.

Formar governos com a direita, quer com o CDS, quer com o PSD, disse ainda António Costa, nunca fizeram com que Mário Soares, em algum momento, perdesse “o rumo ou o impedisse de tornear os obstáculos”, lembrando que o antigo chefe de Estado, em 2015, esteve na primeira linha em defesa da formação da geringonça. Uma posição que contesta e contraria, disse ainda o líder socialista, a tese de “alguns herdeiros putativos de Mário Soares”, quando asseveram que a geringonça foi uma traição ao seu pensamento político.

Para António Costa, foi a determinação e o empenho político de Mário Soares que permitiu que o PS tivesse consolidado e protegido, logo a partir de 1974, a sua autonomia estratégica, enfrentado com sucesso as mais diversas adversidades políticas, referindo a este propósito a “luta contra a influência trotskista entre os socialistas portugueses e depois para impedir que o PPD ocupasse o espaço da social-democracia no país”.

O chefe do Governo lembrou ainda palavras de Manuel Alegre, quando um dia o histórico militante socialista afirmou que no PS “já estivemos todos uns contra os outros, mas no fim, acabámos unidos”, insistindo António Costa que o PS foi sendo capaz de absorver, ao longo do tempo, “muitas das características pessoais de Mário Soares”, com destaque para o “seu especial gosto pela liberdade e pela solidariedade”.

Um livro fundamental

Para o antigo presidente da Assembleia da República e também um dos fundadores do PS, Jaime Gama, que fez a apresentação da obra, o livro ‘Portugal Amordaçado’, para além de ser uma peça “decisiva para a existência política de Mário Soares”, representou igualmente um grito de alerta de alguém que estava então “acossado pela ditadura do Estado Novo e que se confrontava com um conjunto de correntes políticas no campo da oposição que não se identificavam com ele, que não o tinham sufragado na última eleição e que em muitos casos até o tinham hostilizado e antagonizado”.

Também o antigo assessor de Mário Soares em Belém, entre 1986 e 1996, José Manuel dos Santos, responsável pelo relançamento da obra, lembrou as diversas reações que na época o ‘Portugal Amordaçado’ provocou em diferentes personalidades, destacando o impacto que teve quer no fundador e primeiro líder do PPD, Francisco Sá Carneiro, quer no então presidente do Conselho, Marcello Caetano, salientando que esta é uma obra que teve o mérito de ter feito um “balanço do passado e de ter sabido olhar para o futuro”.

Em relação ao futuro, agora em 2024 e em 2025, José Manuel dos Santos deixou a garantia a propósito da comemoração do centenário do nascimento de Mário Soares, que está a ser constituída uma comissão organizadora “plural e representativa”, que tem estado a trabalhar “ativamente com os órgãos de soberania e com a sociedade civil”, num programa com “um acento contemporâneo”, que seja capaz de “divulgar e atualizar os valores e as causas de Soares, aproximando o seu legado das novas gerações”.

Houve também oportunidade para ouvir a intervenção de João Soares, que começou por recorrer às palavras de irmã, Isabel Soares, garantindo que ambos sempre consideraram o pai, Mário Soares, “como o nosso herói”, caracterizando-o como “um homem de família”, e recordando as circunstâncias penosas em que foi escrito o livro no exílio, destacando, a este propósito, o episódio difícil por que passou Mário Soares aquando do funeral do pai, em julho de 1970.

Foram várias as personalidades que quiseram marcar presença na sessão de apresentação da edição revista e ampliada do livro de Mário Soares, ‘Portugal Amordaçado’, com destaque, entre muitas outras, para o chefe de Estado, a vice-presidente da Assembleia da República, Edite Estrela, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, o membro do Conselho de Estado e histórico dirigente socialista Manuel Alegre, e dois dos fundadores do PS, José Leitão e António Reis.

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