Confiança
Em primeiro lugar, não há expressão que melhor traduza o mandato do governo da direita do que a traição à confiança que os eleitores haviam depositado, em 2011, nos partidos que o constituíram. Passos Coelho baseou toda a sua oposição ao então governo minoritário do PS na ideia de que bastava de austeridade e que o problema das contas públicas se resumia a certas “gorduras” do Estado. Foi um dos maiores logros eleitorais que os Portugueses sofreram, em 40 anos de democracia. A prática do Governo PSD-CDS foi um constante desmentido desta promessa: foi muito mais austeridade – aliás, muito mais do que exigia o memorando celebrado com a “troica” – e nenhuma diminuição – repito, nenhuma – das despesas com os chamados consumos intermédios do Estado.
Em segundo lugar, havendo um sem número de coisas negativas provocadas pela governação da direita, nenhuma será talvez mais grave do que o rombo na relação de confiança das pessoas com as instituições. Não falo apenas do sistema de pensões, em que a quebra de confiança foi absolutamente devastadora. Falo também da relação com os serviços públicos, em particular na área da saúde. E falo também da confiança no sistema financeiro e na ação reguladora do governo a esse respeito. O que sucedeu com o Banco Espírito Santo simboliza dramaticamente a irresponsabilidade, quer dos acionistas e dos gestores, quer dos reguladores e dos governantes que, pura e simplesmente, enganaram os depositantes e pequenos investidores do banco.
Depois, a tarefa mais urgente do próximo governo é restaurar a confiança. A confiança dos pensionistas no pagamento das suas pensões, a confiança dos contribuintes de hoje nas suas pensões futuras, a confiança dos cidadãos na administração pública, a confiança dos profissionais nos serviços em que trabalham. A confiança é ainda o valor chave das políticas públicas. O virar da página da austeridade tem de fazer-se sem aventuras nem precipitações, antes com um programa coerente e rigoroso de políticas orçamentais, financeiras e económicas.
Confiança é finalmente o grande ativo do PS. A confiança inspirada pelo seu programa eleitoral e pelo estudo macroeconómico que o sustenta. E a confiança nas qualidades pessoais e políticas do seu líder, António Costa, cuja experiência política e cujas realizações são conhecidas de todos.
A mim não me admira nada a campanha de destruição maciça que de tantos lados se conduz atualmente contra o PS. Nem, devo dizer, me assusta. Ela é a prova provada de que os adversários reconhecem, não só a centralidade da questão da confiança, como a vantagem que nela tem António Costa.