Como enfrentar a economia sem emprego?
Nesta altura perfilam-se dois caminhos: tentar adaptar o sistema promovendo uma evolução na continuidade, ou optar pela revolução organizacional da sociedade.
A manutenção do trabalho enquanto mecanismo de redistribuição tem a vantagem de manter a sua função dignificante, um dos pilares das sociedades herdadas da Revolução Industrial. Para operar esta evolução do sistema é necessário em primeiro lugar distribuir o pouco trabalho que ainda vai havendo por mais pessoas. Ou seja, diminuir o horário de trabalho semanal sem prejuízo do salário-hora.
Esta solução não é fácil de passar aos diferentes agentes económicos. Mais do que à manutenção do salário-hora, os patrões torcem o nariz a baixar os horários, medida que representa um acréscimo de despesa operacional. E os trabalhadores com emprego não quererão naturalmente partilhá-lo com os desempregados.
A ideia de uma revolução organizacional através da instituição de um Rendimento Básico Incondicional tem vindo a fazer o seu caminho, dos EUA à Europa. Os defensores do RBI dizem que este conduzirá a trabalho mais criativo e emocionalmente recompensador, uma vez que passa a ser uma ocupação facultativa.
O RBI tem-se mostrado mais fácil de aceitar nas empresas e nos setores conservadores e difícil de compreender à esquerda, que vê nele o regresso do trabalhador a um estado de dependência, tão indigno quanto desmoralizador.
Mas o seu maior problema é mesmo o financiamento. A aritmética simples — desviar para o RBI as diferentes prestações sociais — não resulta, nem mesmo com a adição de um imposto sobre o capital. Será precisa maior imaginação. Mas há ideias para estudar, como uma taxa progressiva sobre a exploração dos recursos naturais finitos (gás, petróleo, água, minério, terra). A uniformização dos cidadãos numa classe única de dependentes pode ser combatida com um sistema diferenciador através de pontos ganhos em trabalho social, conversíveis em complemento do rendimento.
Aceito que o desafio da economia sem emprego não está entre as prioridades imediatas tendo em conta o estado em que o país se encontra. Mas não tenho dúvidas sobre a urgência de o introduzir na agenda política para começar a ensaiar e testar respostas: uma economia que não gera emprego vai tornar-se um problema social incontornável já na próxima legislatura.