Como combater o nada?
Isto explicaria, por exemplo, porque é que, meses a fio, António Costa foi bombardeado por tudo quanto era imprensa sobre os “números” e as “contas” que dariam fundamento ao seu programa – e, quando foi a vez de a coligação de direita apresentar um programa completamente vazio de fundamentos técnicos e medidas orçamentais, a denúncia crítica desse facto tenha ficado exclusivamente nas mãos dos economistas que colaboram com o PS. A direita diz querer introduzir, em plena crise económica e orçamental, o plafonamento nas contribuições para a segurança social – e ninguém parece interessado em perguntar-lhe como acomodará o rombo imediato que isso provoca no sistema de pensões. A direita está vinculada a uma redução de 600 milhões de euros nas pensões, já para 2016, não diz como e ninguém insiste na pergunta. A direita promete a chamada liberdade de escolha na educação e na saúde, e ninguém a interroga, com um mínimo de persistência, sobre como tenciona financiar essa promessa.
E assim sucessivamente. O programa da direita é, de facto, tecnicamente vazio. Mas, ao contrário dos que veem nisso justificação para, cumplicemente, deixá-la passar entre os pingos da chuva, esse programa é uma clara e bem nutrida proclamação ideológica: privatizar, privatizar, privatizar.
Não se trata, pois, de combater o nada. Trata-se de combater um embuste monumental. Qual foi a área em que a direita não falhou, neste mandato em que falhou tudo o resto? Foi a privatização do que era público e rentável, e podia ser entregue ao lucro privado; e foi o enfraquecimento deliberado do Estado, da administração e do serviço público, preparatório ou concomitante daquela privatização. O que é que a direita se propõe fazer, num suposto próximo mandato? Privatizar o que resta, a segurança social e a saúde.
A alguns isto pode parecer nada. Estão redondamente enganados. Sob a capa de nada, isto revela o verdadeiro programa político de uma direita que se radicalizou. Combater este programa, eis a nossa obrigação.