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BRUNO NAVARRO

BRUNO NAVARRO

Opinião de:

O amigo Jorge

Que se pode dizer quando um amigo morre aos 43 anos? Que se pode dizer quando a Cultura Portuguesa perde um dos seus mais criativos e talentosos representantes? “A morte chega cedo”, escreveu Pessoa. Para Bruno Navarro chegou aos 43 anos, sem aviso e sem razão. A sua morte súbita, no sábado, provocou consternação e dor em todos os que o conheciam.

O PS está de luto por ter perdido um dos seus mais promissores quadros políticos. José Luís Carneiro, Secretário-geral adjunto, lamenta a perda de “um dos seus melhores” que “sabia compreender a Cultura como fator de desenvolvimento humano, social e territorial”.

Há pessoas que não deixam ninguém indiferente. Bruno Navarro é daquelas personalidades que marcam quem com elas se cruza. Há pessoas que nos impressionam pela sua inteligência, simpatia e saber. Há pessoas que nos conquistam pelas suas ideias, cultura, qualidades humanas… Bruno Navarro impressionava e conquistava, porque era excelente no ser e no fazer.

Graça Fonseca, ministra da Cultura, lamentando a morte precoce do presidente da Fundação Côa Parque, destaca “o seu trabalho e a sua paixão pelo que fazia, como o património cultural que tão bem guardou e deu a conhecer com novos rumos”. Para o ministro da Ciência Manuel Heitor, a morte de Bruno Navarro deixou “um vazio imenso a nível pessoal e emocional para todos os que o conheciam e tiveram a oportunidade de partilhar a sua alegria e amizade, mas também na Ciência e na Cultura portuguesas “.

Haverá um antes e um depois de Bruno Navarro na Fundação Côa Parque, a que ele presidia desde 2017, nomeado pelo então ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. Não obstante o seu invejável curriculum, a sua nomeação foi contestada na altura por alguns arqueólogos. Agora, a Associação dos Arqueólogos Portugueses não hesita em reconhecer que Bruno Navarro, “graças às suas elevadas qualidades humanas e capacidades de gestão, depressa conseguiu conquistar” os trabalhadores da Fundação e a aceitação generalizada da comunidade arqueológica, sublinhando que, em pouco mais de três anos, conseguiu retirar “da longa letargia em que se encontravam” o Parque e o Museu do Côa. O que diz muito sobre a competência, a dedicação e a personalidade do historiador, cuja ação marca indelevelmente a história do património mundial do Vale do Côa que ele tão bem soube promover e valorizar a nível nacional e internacional.

Recordo dois episódios ocorridos no verão passado, reveladores das excecionais capacidades de Bruno Navarro. Um, de natureza institucional, aconteceu em julho, por ocasião do décimo aniversário da criação do Museu do Côa. Foi feita uma justa homenagem ao ex-primeiro-ministro António Guterres por ter tomado, em 1996, a difícil decisão de interromper a construção da barragem para salvar as gravuras rupestres. Em tempo de pandemia, respeitando as regras sanitárias, sem abraços e com máscaras, Bruno Navarro conseguiu levar a Foz Côa, para além do homenageado, dois ministros, um secretário de Estado, uma comissária europeia, vários deputados, dois reitores e muitas personalidades do setor da Cultura para, numa cerimónia simples e muito digna, prestar a merecida homenagem ao atual Secretário-geral das Nações Unidas. O outro episódio é uma inolvidável recordação de um dia de verão com o nosso amigo e família. Nessa noite de agosto, depois de um dia bem passado, fomos com a Sara, o Francisco e a Mafalda observar o céu na Quinta da Ervamoira, guiados pelo astrónomo Máximo Ferreira. Vimos estrelas, planetas e constelações. Um deslumbramento para as crianças e um bom momento para os adultos. Vamos sentir muito a falta do Bruno.

Termino, citando uma das suas últimas leituras de Vergílio Ferreira. “E, no entanto, como me agride ainda de crueldade! Porque o peso da dor nada tem que ver com a qualidade da dor. A dor é o que se sente. Nada mais.”