Brasil – Entre a espada e a parede
Já houve, no passado, decisões de afastamento. Nesta república Fernando Collor de Mello foi sujeito ao voto dos parlamentares. Acontece que essa outra situação nada teve de semelhante com a que hoje se vive, resultou da comprovada participação em processo criminal de um vasto conjunto de colaboradores próximos, uma quadrilha encartada.
Desta vez o processo, que já vai longo, é político. Dilma não foi, nunca, acusada do que quer que seja, apesar dos muitos casos em investigação. Ora, foi exatamente o facto de não ter implicado, na raiz, o judiciário, que a fez chegar a este ponto que parece não ter retorno.
Há, neste momento, inúmeras acusações a Temer, Vice-Presidente; há enormes suspeitas quanto a Cunha, presidente da Câmara dos Deputados; há pendências quanto a Aécio, candidato derrotado nas últimas eleições. Dois terços dos deputados que integraram a comissão de inquérito que desenvolveu o procedimento estão sob suspeita, alguns a salvo dos direitos de inacessibilidade enquanto parlamentares. Mas mesmo assim foram atrevidos, quiseram garantir que, substituindo Dilma, afiançariam a imunidade, salvariam a impunidade.
O modelo de desenvolvimento que o Brasil vem assumindo merece inúmeros reparos. A gestão da coisa pública da última década não merece perdão. O clientelismo, o populismo pacóvio e a corrupção assumiram uma dimensão insuportável. Mas tudo isto, criticável e que deve ser combatido, não pode fazer suspender a democracia e a legitimidade do voto.
Dilma foi inábil na forma como geriu o “galinheiro” em que se transformou a sua coligação de governo onde o PT é, tão só, um quinto dos votos necessários. Mas a inabilidade avalia-se nas urnas e não em processo de moscambilha promovido por gente pouco recomendável. Nada de bom virá.