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Azia

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A azia do PSD em relação à situação política atual é prolongada, desconfortável e chega a ser dolorosa. A perda da capacidade de constituir uma maioria para governar, a longa proteção que o anterior Presidente lhe concedeu, a convicção de que só ele detinha a chave para sair do labirinto da austeridade auto-infligida, o acintoso desprezo que votava às esquerdas, tudo isso e algo mais contribuiu para a enorme sensação de enfartamento forçado a que a direção do PSD foi submetida quando assistiu à constituição do governo de Costa.

Opinião de:

Azia

A esperança de que um candidato nado, criado e mesmo criador do ancentral PPD, o atual Presidente, viesse repor o direito natural com que a direita assume o poder, atuou durante algumas semanas como antiácido. Afastou a sensação de dor temporária, mas não agiu sistemicamente. As primeiras declarações e intervenções do Presidente e a progressiva aceitação e depois até simpatia de que Costa passou a fruir exacerbaram a dor estomacal. Bem tentaram alguns dos seus tenores, aqui e em Bruxelas, explicar quão impossível seria deixar crescer este governo malsão. Sem sucesso. Esperava-se que Bruxelas recusasse o orçamento. Em vão. Esperava-se que o spread da dívida soberana castigasse a esquerda intrusa, a querer ombrear com os bem comportados. Em vão. Esperava-se que as agências de rating viessem repor a ordem natural de não deixar governar a esquerda. Em vão. Cansado de esperar e com a acidez a acumular no estômago, Passos empreende uma manobra ousada. Considerar-se a si próprio e aos seus companheiros uns verdadeiros sociais-democratas. Com esse slogan se apresentou a congresso. Porém, o disfarce não lhe assentou bem e o discurso saiu pífio. E assim foi acumulando acidez, dispepsia, irritação.

Talvez fosse de utilizar outros para a “dirty job”, essa tarefa execranda de desbastar as crescentes simpatias de Costa. E vai de encarregar uma sua antiga ministra de chamar nomes à coligação, aproveitando o “prime time” parlamentar dos discursos do 25 de Abril. Pior a emenda que o soneto. O discurso saiu agressivo, destemperado, contra a corrente do dia e cada vez mais distante do que o PSD esperava para vencer a acidez estomacal, reiniciar uma digestão tranquila e finalmente poder recomeçar nas atividades da vida diária.

Vai ter que pedir uma consulta médica ao Presidente. Como se viu na campanha, este conhece tudo sobre azias e más digestões. Sabe bem como “forrar o estômago”. Vai recomendar-lhe o “omeprazole” do bom-senso.