Aumento da pobreza choca com miragem de crescimento
Esta a opinião do professor do ISEG Carlos Farinha Rodrigues sobre os dados relativos à pobreza, distribuição de rendimentos, desigualdades e prestações sociais, contida no dossiê do semanário “Expresso” dedicado ao tema.
Para Farinha Rodrigues, estes dados espelham claramente as consequências sociais do “austericídio”: a quebra dos rendimentos das famílias, o refluxo das políticas sociais, em particular as dirigidas aos sectores mais vulneráveis da população, e o agravamento das desigualdades.
O economista não hesita em falar de “uma forte degradação das condições de vida das famílias” e refere que, ao olhar para a taxa de pobreza, há outro número a salientar: a taxa de pobreza das crianças e dos jovens aumentou mais de três pontos percentuais.
Quanto ao fosso das desigualdades sociais, o economista refere que não restam dúvidas de que o panorama português se agravou como consequência das políticas seguidas
E vai ainda mais longe ao dizer que “o padrão de evolução da desigualdade na distribuição do rendimento colide fortemente com um dos principais argumentos invocados pelos atuais decisores políticos: o de que as políticas de austeridade, como os cortes de salários e pensões, trataram sempre de isentar as famílias e os indivíduos mais pobres”.
Governo contribuiu para fragilizar a coesão social
Com base nos dados dos inquéritos realizados às famílias pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), é verificável que, aponta Farinha Rodrigues, se é verdade que os mais pobres não foram diretamente afetados com reduções de salários e pensões, os seus rendimentos “sofreram uma profunda erosão pelo forte recuo das prestações sociais”.
E conclui que a anulação das políticas sociais (Rendimento Social de Inserção, Complemento Solidário para Idosos e Abono de Família) no auge da crise económica, “quando elas mais se revelavam necessárias, constituiu inequivocamente um fator de empobrecimento e de fragilização da coesão social”.
Nesta ordem de ideias, também Frederico Cantante, investigador do Observatório das Desigualdades, defende que, “num contexto de forte aumento da população desempregada e do número de pessoas que se encontram em situação limítrofes ao desemprego, os chamados estabilizadores automáticos, em particular o subsídio de desemprego, não foi suficientemente eficaz”.
Em geral, os indicadores de inclusão social, segundo nota o economista João Cerejeira, docente na Universidade do Minho, a par do agravamento das condições de vida dos grupos mais vulneráveis da população portuguesa, destaca-se “um aumento dos jovens NEET (não trabalham, não estudam, não estão em formação).