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As presidenciais e os comentadores

As presidenciais e os comentadores

No rescaldo das eleições presidenciais, o comentarismo nacional fez as contas aos vencedores e aos perdedores. A arrumação não foi difícil: Marcelo e Marisa surgiram em todos os balanços como os principais vencedores e, entre os perdedores, Edgar Silva e Maria de Belém foram os nomes óbvios.

Opinião de:

As presidenciais e os comentadores

Mas houve ainda lugar no catálogo para os que, tendo perdido, ganharam alguma coisa, como Vitorino Silva (o Tino de Rans) considerado uma das surpresas da noite. Sampaio da Nóvoa não fez o pleno na classificação dos comentadores. Alguns colocaram-no nos dois lados do “catálogo”: entre os vencedores, pelo discurso final e a boa campanha que fez; nos perdedores, por não ter conseguido levar Marcelo a uma segunda volta.  

Na classificação dos partidos, se o PCP foi para todos os comentadores o maior derrotado, o PS foi também um perdedor e o Bloco um vencedor. Já quanto ao PSD e ao CDS, os comentadores dividiram-se: enquanto alguns os deram como vencedores pelo facto de terem recomendado o voto em Marcelo, outros lembravam que Marcelo passou a campanha a demarcar-se deles e a jurar apoio ao governo socialista. 

O mais complicado para os comentadores foi arranjarem um lugar para António Costa no catálogo dos vencedores e dos perdedores. E aí encontramos verdadeiros delírios. Costa, ora surge como um dos grandes perdedores ora como um dos vencedores. Para os mais sofisticados, Costa venceu porque “o seu candidato” era, afinal, Marcelo. Para estes, a estratégia de Costa ao manter o PS sem candidato oficial foi premeditada porque sabia que Marcelo ganharia sempre a qualquer candidato apoiado pelo PS, depois da recusa de Guterres. E, na noite eleitoral, depois de anunciado o vencedor e de Marcelo ter falado, e de as televisões darem como certo que António Costa não faria qualquer declaração, eis que ele surge na pele de primeiro-ministro a felicitar Marcelo, surpreendendo uma vez mais os comentadores. 

O interessante, neste exercício de recuperação de comentários pós-presidenciais, é a constatação de que António Costa baralha os comentadores. É que andaram distraídos ou não acreditaram nas suas declarações quando, depois de eleito nas primárias do PS, Costa  disse que não se aliaria à direita, não votaria um orçamento do PSD-CDS nem aceitava a exclusão do PCP e do BE de uma solução governativa. 

Quando depois foram rever as suas declarações e verificaram que elas batiam certo com as decisões que veio a tomar, constataram que Costa lhes baralhou as análises. A partir daí, alguns comentadores referem-se a António Costa ora como uma espécie de prestidigitador que transforma as derrotas em vitórias, ora como o Maquiavel português, ora como um temível estratega e negociador, capaz de conseguir as soluções mais inesperadas.

Este tipo de comentarismo seria divertido, se não se tivesse tornado o “prato-forte” da análise política nacional.